quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Poema erótico sobre a mulher, o mar e os quatro elementos

O poeta fora amar
uma mulher na praia
na pedra de minério
junto à arrebentação.

A onda se afirmava
na horizontal
vinha vindo, vezes sim
vezes não.

Na espuma branca
pululava
quase fonte, enxurros
da acidez de sal.

Pelas fendas
de recônditas rochas
o poeta observava
voyer, à ondas se armando
em vivo sexo elemental.

No longe, n’alto-mar
defloradas na premência vã do agora
iam-se como marolas
que choram.
e a vaga de ontem
era como se fora
a sumula da que
seria a de amanhã.

Era como um gozo
continuado, múltiplo
interminável de amor
tal qual só podem
homens e mulheres que se amam
em um furor de fogo
e que se sugerem
sempre ao sol restante.

Mais do que a eternidade
restava ali
um único instante.
Os seios da mulher
já pontuam eriçados
prontos ao roçar do dente
ao frescor dos lábios.

Sob a penumbra noturnia e bela
ofereciam-se à sombra da noite.
Mas pousava o olhar, o poeta
que se cria sábio
no remanso esquecido
do quebra-mar
sobre a pedra.

Na avidez perdida
de Eros, o amor proposto
então já ardia
consumação de Poseidon e de Fedra.

E vinha no fluir do vento
ainda mais algum elemento
a lembrar o pecado capital.
A maresia e no ar o aroma
de caju suculento ou romã.

Disposta e languida na areia
a mulher esquecida, perdida
pedia a brisa e o vento
para se aliviar
da secura da canícula.

O frisson do corpo
os beijos vadios
na pele da nuca
no bico do seio.

Infinitivo do amor total.
Nunca o vértice entre
as suas pernas
fora mais ardente
e sensual.

Era como um figo
maduro e aberto, exposto
sua rugosa vermelhidão
que exalava, aguava-se
para a devoração da língua.

Ah, poeta! Que péssimo amante!
Ali a mulher deixada à míngua
e seu olhar resvalando atônito
do corpo líquido e quente
perdia-se no tirocínio da mente
perdia-se na observância inútil
da lubricidade inconsútil do mar.

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Ricardo Sant'Anna Reis 21.9170-9004

Ricardo Sant'Anna Reis  21.9170-9004
"rondava a rosa à poesia pelos jardins das flores tanto mais diversa a rosa quanto mais forem os amores". Sociólogo, poeta e editor, publiquei em antologias e recebi alguns premios literários. Tenho dois livros: "Diario da Imperfeita Natureza" e "Derradeiro Prelúdio" (no prelo). Pretendo aqui interagir com voce sobre poesia ou qualquer outro assunto relevante.

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