domingo, 31 de janeiro de 2010

MAGNETO


Ficar perto, sumamente perto
de quem se possa fiar
assim, de peito aberto.

Um lugar para quentar o sol
um canto escuro
para ficar quieto.

Ficar perto, sumamente perto
mais que perto, na trilha
que atravessa o deserto
da vida inteira, passo a passo
à buscar a sombra da tamareira.

Ficar perto, sumamente perto
das divinas mesuras
das mentes mais puras
como as mentes das crianças.

Perto da arte e da esperança
no homem; perto da poesia
e que esta seja um magneto
à repelir percevejos
e trazer amigos para perto.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Um belo poema da paranaense Andréa Motta


Seiva


Alimento-me de poesia
desta arraigada nos subterrâneos
do meu templo profanado
desta intrigante agitação do pensamento

Alimento-me da poesia
parida em fragmentos
que pigmenta cálidas palavras
soltas numa folha de papel

Alimento-me de poesia
desta que jorra como semém
e transborda por minhas veias
gotejando feito seiva

Alimento-me da poesia
desta que brota do espírito
e revela a alma

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

ANUNCIAÇÃO

A poesia é um fato da cultura.
Uma necessidade irrecorrível
do espírito
e da existência humana
agua que corre no leito do rio
e encontra sentido
no corpo seco que a absorve.

Também para viver o amor
deve o corpo enternecer-se.
Para o ofício da grande dor
ou para um vaticínio qualquer
deve ter-se o coração queimado
a tocos de cigarro.

E aí a poesia nos socorre
valendo-se da memória
afectiva e imaterial
nos protege do escárnio
e da aridez de sentimentos.

A poesia traz para o âmbito
de um querer holistico
o sublime do beijo
o alheamento do olhar apaixonado
o ardil na mente
de um vigoroso pensamento.

Não se precisa chorar
um vale de lágrimas
se podes ter na algibeira
um belo poema romantico
como emplastro miraculoso
essência balsamica
lenitivo de sonhos
antídoto ao veneno
de uma noite lúbrica
ou fria e sem amor.
A poesia nos conduz, à salvo
ao primevo amanhecer.

Se a tí não for dada
a condição precária
da absíntica inspiração
deixe a poesia ser
o que for em você.

Deixe-a falar, fluir
de você, apenas.
Nada queira.
Lembre-se dos evangelistas
escribas das escrituras sacras
que nos legaram versos
e não vetusta a esterilidade
de leis religiosas.
Arte, apenas.

Foram homens pósteros
com espíritos cativos
que ali quiseram
normativas ver
onde havia inquestionável
e lírica prosa.

Estar convencido
é não mais saber.
Uma mentira, quando bela
uma duvida
fazem mais pela humanidade
do que qualquer das inúmeras
e instituidas verdades.

Depois da morte
só fica a invenção.
O mais renomado poeta
não é mais que o menor
e desditado profeta
desta difícil tarefa
de tão grande alarde
que é pregar a vida
e a arte
fazendo da poesia
a anunciação.

Ricardo S. Reis

PRINCÍPIAR

No principio
todo amor era franco
todo desejo, jubiloso
toda poesia, liberta.

A princípio
os homens deviam cuidar
de apenas ser
por princípio;
dever-se-ia afrontar
o poder
o inefável domínio
do dinheiro
a baldia vaidade
o senso arbitrário
do esteta.

Como princípio
do inicio ao fim
apenas uma
desabrida verdade:
- Se tudo na vida se retira
ao sentido, que seja
o Amor
aquilo que nos resta.

Ricardo S. Reis

AGRIDOCE

acre é gosto e sépia
ocre é rosto e nuvem
acre é chuva é cor i
nexistente inexpugná
vel contextura ocre
é a penumbra vazada
acre é o norte é o
azul (a cor da morte)
agridoce em teu corpo
manifesto está a mor
te anunciada ocre é a
paixão acabada nos ol
hos de quem vence a m
adrugada ao amanhecer
de quem na encarnação
do dia vê a primeira
luz tremeluzir no céu

ANT'ECLESIAS (Haiti)

Os sinais do Apocalipse, o fim do mundo
Juan de La Cruz e a prognose pantagruélica
As vãs profecias de Nostradamus
As visões de mistério e a alta Stela
Dos princípios Alfa ou Omega
A morte e a vida, érebo de serralhas
O anjo primeiro a ditar finda ecógla
Candelabros da Eclésia de Éfeso
Alumiando a glória de Deus nas alturas...
Pois que é a luz que do chão, alumia
desde as profundas.
Dão-se glórias excelsas às trevas, ao rei
das Fornalhas
Ou das grandes águas, dos tremores
Satã, Balaão, Pai da Sinagoga
Que, dos tempos, vaticina solidões amargas
neste mar de misérias, dracmas, cevada e lagrimas.

Ricardo S. Reis

Da poeta e amiga Marcia Barroca / RJ


NOTRE DAME E CÍRIOS ACESOS

Jamais visitarei Paris
sem o poeta de meus sonhos

O cheiro dos croissants
para nossa alegria
soa na poesia das ruas

Prolifera-se

Não carregarei o fardo
da Paris solitária

Às escuras

O grito explode no coração
Irrompe pela garganta
Escorre no poema cifrado

Deus conhece o mistério
que perambula nas almas

Decifra-nos desamorosos?

Bebes meu sangue
Mas não salgarei
minhas lágrimas

Os sinos de Notre Dame
sugerindo círios acesos
iluminarão nossos passos

Marcia Barroca

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

QUADRANTE


O amor: Quantos serão os lados
do sentimento enquadrado?

A dor: Quanto dela existe
no morrer que se revela
no viver que ainda insiste?

A arte: Como viver
simplesmente
sem a transformação?
Sem tornar o nada em belo
sem fazer da vida um libelo
pela constante recriação?

A morte: Cabe-nos torná-la
parceira
deste viver sem fronteiras
deste amar sem perdão.

http://www.youtube.com/watch?v=vD4tX67qrBc

Parceria de Dico Wanderley (Letra) com Jonas Ribas (Musica)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

QUIETUDE



pela abrumosa fleuma do pântano onde aflora a flor do lácio segui-te com o coração dilatado aos pulos segui movido pela paixão que dissolve tudo derruba muros e que de pronto ameiga a vida em um silencio grande de não importar e este o silencio de tão grande terá a veemência assertiva de um surdo-mudo e só um terno momento de inebrio em que se apure os ouvidos permitirá escutar o silencio já que este vem da própria quietude do esquecimento

domingo, 24 de janeiro de 2010




tempo de vapor
e eternidade
espaço tempo
silogismo banal
escorre eterno
e sem temor
voa o tempo
éter contratempo
éter contra o tempo
vento industrial
a inércia do pensamento
a saudade
do tempo pretérito
do rio caudaloso
do leite quente com broa
da relva para amar
nos confins da tarde

tempo que recobre-se da urgência
de ser–não–ser como se mais não fosse
tempo que cavalga paisagens
tempo da demência
e do encontro

se o corpo sofre o seu passar
a alma arde um contraponto

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

SUICIDE



Uma arma na fronte
Resolve um problema
Que desde Creonte
Apresenta o dilema
Revólver niquelado
Escolher o caminho
Da virtú, que é para frente
Do poder, que é para o lado.

Na passagem de se ir sozinho
E para se evitar a dor
Só um Cohiba te protege
Nunca o céu do criador.

Nesta última jornada
Adentras, enevoada
Branca estrada em que
Matar-te-á o galego salteador
Dos bosques fimbrios da alma
A mando de um cruel dogde
Com uma faca na cinta
e a pistola no colete.

Já que é a hora da boa morte
Morte de homem, se diga
Pegue um bom charro no alforje
Para não morrer indigente
Para que teu ultimo sopro
Não lhe venha de falsete.

OS SETE PECADOS - VAIDADE



Esperai, sinceros poetas!
Não demora o lírico encontro
entre o belo e o devaneio
entre a sede e a saciedade
entre a essência e o floreio.

Esperai, céleres poetas!
Não tarda assistir-se
ao sacrifício da rima;
nem a subir-se morro à cima
e em fortuna funesta
atirar-se do penhasco.

Esperai, poetas da cidade!
Pelo dia que não custa
em que, drummodianamente
em farra honesta, a poesia
liberte-se da vaidade.

OS SETE PECADOS - LUXURIA




A rede já não balançava.
Era sexo selvagem de fato:
O índio dormiu no ato.

A índia, que estava animada
Ficou há ver navios no longe.
Esperava os marujos louros.

E enquanto não chegavam
Aqueles tais holandeses
Dava-se, assim mesmo
Aos portugueses
Mas só pensava nos mouros.

Olhando ao longe o navio
Sentiu-se bem excitada.
Avistou um mastro enorme.

Nadou pelo mar, a galope.
Fogoso é o tempo que urge
E se fartou com o marujo.

Agora, a pobre indiazinha
Só vive na praia acenando
Prá todo barquinho que surge!

OS SETE PECADOS - IRA



por vezes me toma um tal calor
que de grande me arde por dentro
quase que o fogo do inferno
queimando;e eu não me agüento.

por vezes se introduz neste ardor
em meu intimo o veneno melífluo
e viscoso à que chamam de Amor.
ah, vicio nefasto que contamina!

ah, sentir que queima em perene pira
de fulgor e de medo, diva da infinda sina.
ah, este sentir que calcina a alma refratária
na obscuridade deste amor tornado em Ira.

Do amigo e poeta marajoara, Fabiano Silva / PA

BRAMIDO EXALTADO


Ó, Ricardo!
Domador de animais invertebrados
taxidermista de criaturas extintas
perdidas na ignorância e lassidão.

Ó, Ricardo!
Teu rio verbal, largo e intempestivo;
imitatório de meu rio natal, o Guajará,
rio de águas profundas e escuras.

Ó, Ricardo!
Poeta abissal, para te consagrar
vesti-me da malha da metáfora:
rompe com teu verso o Tempo

e outros deuses.
_____________________

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AMOR FECUNDO




Percorro de novo os limites da farsa
de que fizemos parte
as tonalidades do claro/escuro
os encantos de esquina
as ameaças de desmoronamento
os muros e a noite aberta
sobre a avenida.

Possuí teu corpo tantas vezes
como se fora o alimento
ostras vivas, ambrósia da alienação.

Imaginei-te comigo no despertar
da nova aurora e tive o desejo libertário
de construir na vida
um roteiro para os melhores significados.

Deste amor quase anarquia
que tentei profundo, pequena alma
tempo presente e passado
quisera que uma lembrança
tivesse restado; uma semente terrena
uma reminiscência sensível
que fosse e a certeza de que
ainda assim teria valido a pena
este amor tão seu, tão meu, do mundo.

Poema coletivo de Bilábernardes, Claudia Gonçalves, Zé Salvador, Carlos Newlands e Ricardo Reis.


Rimas que voam

Uma folha cai
e o seu barulho é trovão.
Uma pedra cai
passarinho no alçapão.
Um poema sai
ao alcance da emoção
deixa marcas no coração.
A vida se esvai
como num pássaro ferido
na desilusão, em plumas
no vagaroso trilho
que se abre à mansidão.
E seguindo a vida
vai o verso furtivo
como a ventania que não vem.
Da novidade que trazia
este verso sem métrica
de poucas metáforas
a vida queria um canto novo.
Ah, verso que foge na brisa
deixando-nos sem alento.
abandonando-nos às rotinas
despedaçando-se lentamente
porque tudo, nada diz.

Aqui, rimas ao vento.


Poema coletivo de Bilábernardes, Claudia Gonçalves, Zé Salvador, Carlos Newlands e Ricardo Reis.



A Falta que me faz

Apuro o sentido
e não sinto mais
fluir o teu caminhar noturno.
Capturo sonidos
uns risos
que serem os teus eu intuo.
Espero, procuro, mas, nada.
Onde estarás?
A noite me vai triste
assim sem o soar
de teus almejados passos
para alem da plataforma
do desejo de ver-te vindo
em meu encalço
para me diluir em teus braços.

Sem Receio



Queria reter o momento
na eternidade dos olhos

Sentir teu calor um segundo
descendo em teu colo
profundo

Teus lábios
teu hálito de menta

Decidido e sem receio
o dorso de minha mão
tocando-te de leve
nos seios
bulindo a pele tua

Queria encher os meus dedos
com os anéis de teus cabelos

e por fim beijar-te em silencio
te fazendo eterna e minha
roubando-te a forma nua
em um amor disposto
na relva
sob a luz prateada da lua

Matinas



Levante da cama dura
Preparando a semeadura
No priaprismo matinal
Nesta ausência rediviva
Em que tens maestria.

Recorra ao suspiro que
Sustenta o corpo e silencia.
Se banhe de sol, almoce
E depois jante.
Aprenda a viver o dia.

Risque em algum papel
Um poema que se agigante.
O herói já lançou ao mar
Suicida, a identidade galante
Sob o azul do céu de Niterói.

Apeie do ginete
E sacuda o pó d’estrelas.
Acorde dissonante lorde
À vida. Domine o tédio
Na pálpebra, revele a tua elegia
Verseje, aproveite
Que para ser poeta hoje em dia
Não se precisa ter cátedra.

SEDA PURA SEDUÇÃO




Eu te quero e quero
porque te quero
seja chique em poesia
seja brega num bolero.

Eu te quero e quero
porque te quero.
Os entraves da vida
o mato crescido na trilha
eu corto tudo no cutelo.

Dos acertos o maior foi amar-te
Dentre os erros, quase nada
a comparar-se
ao pecado do sentir
no arrepio do toque
na seda pura do teu corpo
teus mamilos a eriçar.

Perdido entre os teus pelos
finda-se para mim o medo
vivo a terminação dos anseios
no inebrio de Puro Eros.

Eu te quero e quero
apenas porque te quero.

Evoé!

Saiba que a sua visita e o seu comentario dão sentido a este espaço, que alem de divulgar poemas, quer conversar sobre a vida. Esteja em sua casa.

Ricardo Sant'Anna Reis 21.9170-9004

Ricardo Sant'Anna Reis  21.9170-9004
"rondava a rosa à poesia pelos jardins das flores tanto mais diversa a rosa quanto mais forem os amores". Sociólogo, poeta e editor, publiquei em antologias e recebi alguns premios literários. Tenho dois livros: "Diario da Imperfeita Natureza" e "Derradeiro Prelúdio" (no prelo). Pretendo aqui interagir com voce sobre poesia ou qualquer outro assunto relevante.

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