terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

OLHOS NADA BAÇOS

Tentar outros olhos/olhares
um outro tempo
mesmo que no mesmo rosto
o retorno medindo a partida
novos lugares, uma nova vida.

Tentar o amor que apraze
em doses homeopáticas
a ciência do assombro
e controle as reações
assintomáticas.

Da voz de barítono
ao o timbre da clarineta
tentar o grito correndo no stratus
suas vibrações antiestáticas
a existência derramando-se
por sobre os hemisférios da terra
pelo chão, por toda parte.

Tentar abruptamente
como a lava de um extinto vulcão
rebrilhar o mistério da poesia
qual al a fonte cristalina
de teu olhar-alívio
rebrilha na eclosão da sede
que nenhuma arte sacia.

Ricardo S. Reis

domingo, 12 de dezembro de 2010

FLORES MIUDAS

Se Absinto um mar de
Amarguras a me tomar
E vejo a Amarílis em
Artifício, navegar

Queda-me o coração
Aos auspícios d’Alecrim
Como se a Fuscia do amor
Ardente fulgisse em mim

Ah, se a primavera
De Anis se adornar
Ante um céu sem
Nuvem a branquear

E se jamais promessa
Houvesse assim
Que estivesse pronta
Ao inconstante amor, enfim

Na vida, no tempo ou no amor
Tragam-se flores para a maior dor
Ou para a elegia
Pois a Dália, a Glicínia ou a Cravina
Só de ser, são poesia

E ainda que Zínia e Sálvia
O Tomilho, ou do que se dispor
Seja Manjericão ou Cicuta brava na pia
Se não as flores, restam os temperos
Para fazer valer o dia.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

DESVELAMENTOS

No princípio, a origem era a água
que tanto a Terra em ebriedade
quanto o movimento dos barcos
desde o início, nos elementos fiavam.

Havia o físico andarilho
e o caminho das tamareiras.
Pelas sombras ia
desde a Fenícia ao Egito.
Na vertente lídima do velho Nilo, o rio
parava para perceber flutuar sedimentos
que a tudo envolviam, igual em porte
ao corpo sulfuroso do Pai Deus
todo poderoso.

A Filosofia nasceu com Tales, em Mileto
e ao Cosmo (e vida) que como um todo
se lhe explica; de inicio a origem era a água
e depois as dores dos homens
e depois o medo da morte
algo mais no pensamento
para os desvelamentos seus.

sábado, 20 de novembro de 2010

A NOITE EA DISIPACIÓN DO AMOR

Ó dor cruel, tropel de musas sereas
Que desacorçoa desde o firmamento
E lanza-nos a nos perder polas areas
Na sorte deletéria, nun momento.

Ó dor cruel qu'inda nos lancina
Como o sol q'en Aurora enriba
E, astro soberbio, ponse casto en sombra
Cando a fermosa luz, a mar finda a tormento.

Ó dor cruel, pouco se fíe a promesa
So abismo pasmo, de paraíso aquí.
Nestes tempos de soidade e noite que disipa
Onde o máis seguro é o perder-se de si.

Ó dor cruel, quixo ser poeta e asumir
A lira inxente e as orballo sublimes
Desperdiçados nun amor sen peias
Que se nubrado, por escaso, suprímese nos.

Arthur de Bastavalles, GA 2010

terça-feira, 16 de novembro de 2010

QUE MAL QUE HAI?

I

ah, que gran bem de amor
que eu sinto e hai de facer-me
eterno entre mortais

ben de amor que sexa
como unha inmensa dor
e que deixa-se verter en
cantigas polos laranxas

que mal habería
que non se o sentise
no presentir
dun néboa enegrecida

ah, que ben habería máis
que o ben das flores
saudando Deus no alborexar


II

ah, doces acordes da morte
das vas cantante carpideiras
que levarán en vôo a mi’alma
cando o corpo canso se romper
ao peso enorme que o pasado
revive sobre pés claudicantes

se en revés hei solicitado a protección
da virxe santa, e se tanto me gusta
manter-me infiel á sorte
e se te saciei a fame tanta,
que entón ti matou-me a sede
co teu mel...

non te quero revisitar outrora
como en posteridade,
estiven a loitar
e, por letargo, tamén me perdín
en soño, por non soporta acordar


III

na praia das ilusións perdidas
ninguén che sabía
nin eu que che tiven che sabía
ninguén che coñecía
a punto de che prever
a bonomia dun consumado e bo destino

inda que te queira na miña vida
non me libro de sentir
a sensación dúbia dun cruel desatino


Arthur de Bastavalles

domingo, 14 de novembro de 2010

SONETO PARA UM ORGASMO ACÓLITO

isto de querer-te em demasia
de olhar-te de viés, em vão soslaio
isto de ter-te no limite, em afasia
e as aleivosias as ter de permeio.

isto de querer a ponto de perder–te
para te ver restaurar no visgo
rijo de meu falo, o teu cio
de aridez coberto
isto de suprimir-te
ao penetrar-te

empalar-te, rachar-te ao meio
que assim possas amar-me a cheio
ao te fazer sentir
a súbita morte de estar viva

de no suspiro destro, te fazer
a saliva do orgasmo acólito
da primeira vez...
isto que te faz bela
e prenhe de altivez.

sábado, 13 de novembro de 2010

MAIS POESIA GALEGA

Santa Companha

Um estranho guerreiro
guiava a procissão...
Todos pareciam sabê-lo

Inda havia o ladrar de cãs
o soar de trompetes
e as luces deambulantes
das velas acesas, nos bosques

Desde então
que os meus incêndios
são nocturnos
e não sob o sol
nos vergeis

Tenho gaivotas...
o que não os tenho
são os céus...

Arthur de Bastabales e Concha Rousia

Evoé!

Saiba que a sua visita e o seu comentario dão sentido a este espaço, que alem de divulgar poemas, quer conversar sobre a vida. Esteja em sua casa.

Ricardo Sant'Anna Reis 21.9170-9004

Ricardo Sant'Anna Reis  21.9170-9004
"rondava a rosa à poesia pelos jardins das flores tanto mais diversa a rosa quanto mais forem os amores". Sociólogo, poeta e editor, publiquei em antologias e recebi alguns premios literários. Tenho dois livros: "Diario da Imperfeita Natureza" e "Derradeiro Prelúdio" (no prelo). Pretendo aqui interagir com voce sobre poesia ou qualquer outro assunto relevante.

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