domingo, 12 de dezembro de 2010

FLORES MIUDAS

Se Absinto um mar de
Amarguras a me tomar
E vejo a Amarílis em
Artifício, navegar

Queda-me o coração
Aos auspícios d’Alecrim
Como se a Fuscia do amor
Ardente fulgisse em mim

Ah, se a primavera
De Anis se adornar
Ante um céu sem
Nuvem a branquear

E se jamais promessa
Houvesse assim
Que estivesse pronta
Ao inconstante amor, enfim

Na vida, no tempo ou no amor
Tragam-se flores para a maior dor
Ou para a elegia
Pois a Dália, a Glicínia ou a Cravina
Só de ser, são poesia

E ainda que Zínia e Sálvia
O Tomilho, ou do que se dispor
Seja Manjericão ou Cicuta brava na pia
Se não as flores, restam os temperos
Para fazer valer o dia.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

DESVELAMENTOS

No princípio, a origem era a água
que tanto a Terra em ebriedade
quanto o movimento dos barcos
desde o início, nos elementos fiavam.

Havia o físico andarilho
e o caminho das tamareiras.
Pelas sombras ia
desde a Fenícia ao Egito.
Na vertente lídima do velho Nilo, o rio
parava para perceber flutuar sedimentos
que a tudo envolviam, igual em porte
ao corpo sulfuroso do Pai Deus
todo poderoso.

A Filosofia nasceu com Tales, em Mileto
e ao Cosmo (e vida) que como um todo
se lhe explica; de inicio a origem era a água
e depois as dores dos homens
e depois o medo da morte
algo mais no pensamento
para os desvelamentos seus.

sábado, 20 de novembro de 2010

A NOITE EA DISIPACIÓN DO AMOR

Ó dor cruel, tropel de musas sereas
Que desacorçoa desde o firmamento
E lanza-nos a nos perder polas areas
Na sorte deletéria, nun momento.

Ó dor cruel qu'inda nos lancina
Como o sol q'en Aurora enriba
E, astro soberbio, ponse casto en sombra
Cando a fermosa luz, a mar finda a tormento.

Ó dor cruel, pouco se fíe a promesa
So abismo pasmo, de paraíso aquí.
Nestes tempos de soidade e noite que disipa
Onde o máis seguro é o perder-se de si.

Ó dor cruel, quixo ser poeta e asumir
A lira inxente e as orballo sublimes
Desperdiçados nun amor sen peias
Que se nubrado, por escaso, suprímese nos.

Arthur de Bastavalles, GA 2010

terça-feira, 16 de novembro de 2010

QUE MAL QUE HAI?

I

ah, que gran bem de amor
que eu sinto e hai de facer-me
eterno entre mortais

ben de amor que sexa
como unha inmensa dor
e que deixa-se verter en
cantigas polos laranxas

que mal habería
que non se o sentise
no presentir
dun néboa enegrecida

ah, que ben habería máis
que o ben das flores
saudando Deus no alborexar


II

ah, doces acordes da morte
das vas cantante carpideiras
que levarán en vôo a mi’alma
cando o corpo canso se romper
ao peso enorme que o pasado
revive sobre pés claudicantes

se en revés hei solicitado a protección
da virxe santa, e se tanto me gusta
manter-me infiel á sorte
e se te saciei a fame tanta,
que entón ti matou-me a sede
co teu mel...

non te quero revisitar outrora
como en posteridade,
estiven a loitar
e, por letargo, tamén me perdín
en soño, por non soporta acordar


III

na praia das ilusións perdidas
ninguén che sabía
nin eu que che tiven che sabía
ninguén che coñecía
a punto de che prever
a bonomia dun consumado e bo destino

inda que te queira na miña vida
non me libro de sentir
a sensación dúbia dun cruel desatino


Arthur de Bastavalles

domingo, 14 de novembro de 2010

SONETO PARA UM ORGASMO ACÓLITO

isto de querer-te em demasia
de olhar-te de viés, em vão soslaio
isto de ter-te no limite, em afasia
e as aleivosias as ter de permeio.

isto de querer a ponto de perder–te
para te ver restaurar no visgo
rijo de meu falo, o teu cio
de aridez coberto
isto de suprimir-te
ao penetrar-te

empalar-te, rachar-te ao meio
que assim possas amar-me a cheio
ao te fazer sentir
a súbita morte de estar viva

de no suspiro destro, te fazer
a saliva do orgasmo acólito
da primeira vez...
isto que te faz bela
e prenhe de altivez.

sábado, 13 de novembro de 2010

MAIS POESIA GALEGA

Santa Companha

Um estranho guerreiro
guiava a procissão...
Todos pareciam sabê-lo

Inda havia o ladrar de cãs
o soar de trompetes
e as luces deambulantes
das velas acesas, nos bosques

Desde então
que os meus incêndios
são nocturnos
e não sob o sol
nos vergeis

Tenho gaivotas...
o que não os tenho
são os céus...

Arthur de Bastabales e Concha Rousia

CONHEÇAM UM GRANDE POETA BRASILEGO

PAISAGEM DEPOIS DA CHUVA

Árvores antigas
debruçadas no lago
espalham sombras ruídas.

Um peregrino sentado
contempla a brisa suave
afagar o campo molhado.

Por entre árvores, uma ave
esgrima com a brisa: amiga.
O peregrino, à sombra, nada sabe.

Ribeiro Halves

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

MALABARES

Tantas vezes o viste na chuva, assim lavado
que o seu espetáculo improvavel de sobrevida
já não mais te surpreendia.
Tantas vezes o pequeno malabarista negro das esquinas
(equilibrando limões em mãos ageis e pequeninas)
em quem o teu pousar inevitavel de olhos
obrigou-te a lembrar das humanas desditas
que impõe às crianças uma tal vida.
E foram tantas neste mesmo caminho diário
que da sua obscura presença e miséria
como a de um lampejo de frio a mais
como a de um fortuito escarro
como a de uma estereotipia de rosto crispado
nem sequer te das mais contas
e, ato contínuo
cerras sem dó a sentença vidro
da janela de teu carro.

SONETO DAS FLORES MIUDAS

Ab-sinto um mar de amargura me tomar
E vejo a amarílis em artifício à navegar.
Queda-me o coração aos auspícios d’alecrim
Como a fuscia do amor ardente fulge em mim.

Ah, se a primavera de anís vai se adornar
Ante o céu sem quase nuvem a branquear
E se jamais real promessa houver assim
Esteja pronta a inconstância do amor, por fim.

Zínia, sálvia e tomilho, o que dispor
Seja o manjericão ou a cicuta brava na pia
Restam os temperos para fazer valer o dia.

Seja na vida, seja no tempo ou no amor
Tragam-se flores para a maior dor ou elegia
Pois dália, glicínia ou cravina, só de ser são poesia.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

FALÊNCIA MUTIPLA

O mundo em putrefação.
A bruma da nascente conspurcada
já te envolve na contaminação.

O coração apaixonado
cercado pela falência múltipla
pela Serra dos Órgãos
pelo barulho dos motores de motos
que ensurdecem aos ouvidos.

A ética na política é um corpo insepulto
esquecido, ao olvido, que se empalha
ou se recolhe à museus.

Que Deus do céu nos guarde
e nos valha
que até a guianba no morro
hoje em dia é só palha.
E sem me livrar das impurezas
tem este meu rim que já falha.

sábado, 6 de novembro de 2010

PROFAN(AÇÃO) - um flanneur em Madureira

Equivaler-se no mercadão das almas
e sobreviver ao mormaço tardio
das intenções desistentes.

As ruas fervem de um fluxo inesgotável
de um ir e vir de esperanças, iniludível
as ruas fervem, inexcedíveis, incontornáveis.

Toda pedra sobre pedra começa a remoção do entulho.
No inferno é lixo por toda parte.

As grandes harpias da salvação
encimavam o telhado a casa desabada.
Agora abrem asas (sombras) sobre o subúrbio.

As imagens, artigos religiosos
luminárias baratas e enfeites chineses
rifles, batuques, cismas e crismas
alem das musas e a disposição natural ao paraíso.

Inda que intentes alcançar a clara promissão
de um veio de mel, de campos de aveia
estejas pronto a guerrear todas as guerras.
Todo corpo santo é sujeito à profanação.
Nada é mesmo tão humano
quanto o riso, quanto a arte
quanto a barbárie
reeditada por mil vezes.

Ricardo Reis 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

OLOR DE JASMIM


Ah, este mundo sem caminhos por ter
que sejam aos pés de pronto trilhar.
Vive-se em torbeliños, no afã de amar
de sonhar a luz no escuro, e por vezes, ser

a mesquinhez de negar o lume ao mundo
só para ver a chama do amor refulgesser.
Ah, musa errante; inquieta tu vais vivendo
que non se te apreende ao vôo de pleno verter.

És a dona casta do amar que eu tuve
que me é assim tirste, por inadvertido
este amor dolente de inescrutável porte.

Sofrida é esta mia dor que a ventura obriga
afeto profundo, quando, com calafrio na barriga
o jasmim de teu cabelo eu pude sentir, por sorte.


Arthur de Bastabales
Bento Gonçalves, RS, outubro de 2010

domingo, 19 de setembro de 2010

PRECE I

A Carmem Moreno

Ah, Deus, ensinai-me
que plano é este de onde se vem
para onde se vai...
Este ir e vir, opróbrio fremente
em que o coração se perde
se arrisca, faz e refaz...
Que músculo é este, Deus
que não sossega
de sentir demais, e cedo
e que sente até mesmo a dor
tácita e ausente?
Ah, Deus, ensinai-me
a viver e a ser mais
do que o meu próprio medo!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

PUMA NO SALTO

Frios como esquadros laminados de um parapeito.
incapazes para algo, mal-formados sobejos.
Se formigas vão no chão fazendo fila
em formação, à mente, se vão os desejos.

Nos meus sonhos diários de absolvição
um gato preto salta e pula, recorrente.
Vira-se de puma, enlutado, em desespero
em uma cabriola filosófica e obsoleta.

Como são frias as tintas na paleta
se são ardentes nas cores
de Van Gohg
quando retratam um campo
de girassóis ensolarados?

TORNASSOL

O amor como o ondular
da procura ausente.
O tornassol que em teu rosto
tornou-se, fixado
num olhar terno, alvo.
Ah, amor que se afogou
em volumosa confiança
desencarnada de sangue
e de eflúvios.
Ah, amor inventado
que revive eternamente
em sua dor.
Um vento impreciso, um relance
e o rosto já se volta a ilusão
e o horizonte já se espraia na mente
em langues águas
como indômita alma.
Ou não, calma. Nada.
Só um sonho estrondoso
na chegada ao portal do Hades
onde só encontrarás, em silêncio
o vetusto senhor do tridente.

domingo, 5 de setembro de 2010

A PANTERA

Rainer Maria Rilke

Seu olhar, de tanto percorrer as grades,
está fatigado, já nada retém.
É como se existisse uma infinidade
de grades e mundo nenhum mais além.

O seu passo elástico e macio, dentro
do círculo menor, a cada volta urde
como que uma dança de força: no centro
delas, uma vontade maior se aturde.

Certas vezes, a cortina das pupilas
ergue-se em silêncio. – Uma imagem então
penetra, a calma dos membros tensos trilha –
e se apaga quando chega ao coração.

domingo, 15 de agosto de 2010

CARA DE CÃO

Após noite ébria de deleite
pus-me a caminhar no calçadão
da Praia de Copacabana.
O horizonte por enfeite
se reparte por igual; as montanhas
inteiras cobertas de mata atlântica
perenes, e o céu, de janeiro a janeiro.
Fixei-me na intima cor natural
da paisagem
sob a luz intensa da manhã.
Retiro dos que por mim
são passantes
a alegria do carnaval.
Há a esperança infinita
de que um dia tudo melhora.
Ainda agora se refletiu no olho côncavo
da andorinha, que mora na reentrância
da pedra do morro Cara de Cão
o claro regozijo de ser ave
nos nítidos céus do Rio de Janeiro.

terça-feira, 27 de julho de 2010

"Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda ciência
herdada, ouvida.  Amor começa tarde".

Carlos Drummond de Andrade

DRUMMOND NO TEMPO INTIMO

Que nada restou de ti, poeta e do tempo enfunado?
Que tudo? O quê da bem querência?
Teus pares, Dolores,
haveres, teus males da vida e amores.

Os achaques do tempo
perduram no gesto
nas guerras a revisitar
nas alcovas consentidas
na foto na parede, Itabira sacrificada.
No batente da janela corroída
a maresia por remanso.

O que restou do Rio de 40?
Restou a tua mão patética em recolhimento
os óculos ovais que denunciam o cansaço
e o sentimento ruinoso do mundo.

E como saber se não foi sonho  se não foi sanha
a poética refletida no olhar da pomba
verdadeira, perdida no passeio Público?
E se ao toque do bumbo da praça em frente
ao Cinema Olinda, o homem sisudo e tímido, enamorado
da dama antiga, ainda se assombre com o estribilho do bonde.

Suspeito que roubas discreto do Carlitos, a eterna cena.
Repara. Embora falte o sentido que te parecia intimo
e necessário, habita a alma algo da canção amiga
das memoraveis sentenças, dos versos tecidos na sombra.

E é esta alma que já se cogita
ser assim mais do que flama,
- um poema.

domingo, 25 de julho de 2010

LANGUIDEZ

                                                A Cláudia Gonçalves



O poeta solitário caminhava em devaneio.

Ia triste no marulhar das gentes a reparar.

Dúbio, perdidas palavras, agravavam o pensar

E não traziam o remanso da brisa do mar a meio.



O que lhe faltava? O que lhe sobrava? Qual seu momento?

Algo bem no fundo lhe dizia que o tal enternecimento

Anteciparia a ventura de saber que, desde o sul

Viria no vento minuano, a lira e o sentimento.



Amalgava-se no peito a saudade de olhos de claro mel

E de angelicais mãos que sequer se deram - e pressentidos

Havia os beijos de rubilita, no outono, - jamais sentidos.



E o poeta sonhava a musa de apego assaz tão liquido

Que lhe vinha no verso a marina brisa e um violino na distância.

A lassidão da lua e o langor d’alma a aplacar-lhe a ânsia.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

PARA PENSAR A EXISTÊNCIA

Quando consideramos como é vasto e próximo de nós o problema da existência, esta existência ambígua, perturbada, fugidia, semelhante a um sonho – um problema tão grande e tão próximo, que encobre e sobrepõe todos os outros problemas e finalidades logo que tomamos consciência dele – e quando consideramos que todos os homens, com exceção de alguns poucos, não são claramente conscientes desse problema, nem parecem perceber sua existência, mas se preocupam antes com qualquer outro assunto e vivem apenas no dia de hoje sem levar em conta a duração não muito longa de seu futuro pessoal, seja contentando-se em relação a ele com algum sistema de metafísica popular; digo, quando considerarmos tudo isso, podemos chegar à conclusão de que o homem só pode ser chamado de ser pensante num sentido muito amplo. Nesse caso, não nos surpreenderá nenhum gesto de irreflexão ou tolice, pois saberemos que o horizonte intelectual do homem normal pode até ultrapassar o do animal – cuja existência, sem nenhuma consciência do futuro e do passado, é inteiramente presente -, mas não esta tão distante deste quanto se supõe.


Arthur Schopenhauer

domingo, 11 de julho de 2010

POEMETO SOBRE O AMOR

O amor quando acontece
pode ter a genética
de um tornado
arrasador e insólito.

Mas o há aquele que amarelece
no sorriso tímido do rapaz
e o que no esperar da moça
vai empoeirar-se.

O que haverá de ser
de um acontecimento
mesmo acentuado e forte
com um tal sentir de gosto...

e que inda por ser assim
é de tal fragilidade
que nasce musgueando
pelos cantos nas ruas
na cidade nos becos da sede
na relva triste das tundras
no charco raso das várzeas
e que toma de tudo conta
como hera de parede?

É preciso proteger
um tal sentimento
do impiedoso jardineiro
estóico senhor do condado
que mora num rancho no fundo
do bosque mais sombrio do mundo
que vem de quando em vêz a lume
aparar as ramagens novas
de qualquer coração descuidado.

AMOR AO PÉ DA LETRA

O poema de pé quebrado
versava sobre o amor
só vivia tropeçando
claudicante em seu ardor.

O poema guardara no peito
imagens daquela tarde
relvas casas e o céu
azulzinho da serena cidade.

Na brisa quente o poema
por sua paixão eterna
indo com rima ou sem rima
flanava ao rés-da-terra.

Por amor sublimava
os erros e faltas mortais
dado que voava sem asas
e que andava sem ter pés.

De amor pouco compreendia
palavras, dispêndio, o que mais?
tentava o poema expressar
uma noite virada em dia.

Assim o poema sem chão
qu'inda não entendia nada
levou tudo ao pé da letra
e continuou na estrada.

sábado, 10 de julho de 2010

AVIS-RARA (Luxúria)

tu então te entregues
quando eu for te rasgar
a anágua
para te ver aguar
como mina preciosa.

se te for buscar no céu
como Eros, como Ares
o Deus capital
no ar bucólico da tarde sensual.

e buenos te serão los aires
enquanto tu, pássaro de apego
mantiver no peito o desejo
que ainda te arde.

e seja assim ou então
em definitivo pare tudo
e emparelhe o teu corpo
se encaixe ao meu
chegando, assim tão perto
tão perto, que nunca mais
bote reparo neste jeito
tão incerto de ter-te.

Ricardo Reis

sexta-feira, 9 de julho de 2010

CARCAZ

Como areias no deserto-pensamento
palavras ditas ausente amor e senso
baralham-se ao vento sem o espanto

Se cala o verso ao mar do mesmo vento
em que a fala no signo em vão resvala
fica a palavra coagida ao espetáculo

Todavia se o poema toma-se em prumo
e de de per si recupera a liberdade
no vento-mar, trama de puro encanto

A verdade do momento então desliza
volta a palavra ao intimo vernáculo
adormecendo o seu anverso à deriva

E faz-se a ânima-poesia em lume-seta
para ver-se ao céu, ao ar, ao vento
onde há o devir por rumo e senda

domingo, 27 de junho de 2010

A AMANTE SÍRIA DO REI

Faz-me o pasto à infausta flama
E confio, desde este canto e mudo
Donde inda á sorrelfa te perscruto
Que antes cuide o peito de quem ama.

Que por meus cuidados e ardores
Preenchendo plena o meu frio leito
Deixes de lado o fausto e o eito
E atentes só aos meus amores.

É quem te ama que assim protesta
Neste ofício vão da esperança perdida
De ter-te inteira depois da lida
Prazenteira dama da intima festa.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

CANÇÃO DE AMOR E DE EXÍLIO

Amo-te tanto, oh, passarinho, em teu vôo ao torpor
Como havia de amar-te presto em teu livre resplendor.
Meu bem! Meu amor! Acolhe o pequeno pássaro cansado
Que em asas leva a ti este meu louvor.
Amei-o ao vê-lo ao chão, ciscante, e por tanto
Por ter lesto o portal do céu cruzado.
Ah, passarinho que carregas o meu desejo e legado:
Depõe-nos aos pés da Bela Donna com todo o ardor!
Que esta sinta então a intensidade de um beijo!
Dizlá que ando triste inda que pola fé mais cabal
Decida-se-me como pena a dor maior deste distante amor
Dizlá, passarinho, que transpõe o grande pélago
E de pronto à mia casta donzela tributa este carinho
Desde aziago desterro, co’as tristezas deste amar sozinho.

terça-feira, 22 de junho de 2010

DESACERTO

A donzela-musa o surpreende no beijo ausente
Em que a magoa que lhe dobra se pressente
Aceno tíbio, inaudito adeus de moça afrontada
Não dava mais contas dos mimos seus por nada.
Pensa o vate que não há de pirata um tesouro
Ou a beleza que lhe possa acudir um esteta
Que valha o nevoar do âmago, o desdouro
Da amada que se crê preterida pelo poeta.
Este, penitente, se renova em harta devoção
Derribando humores outros da eterna promissão
Amando assim transido, não a quer embaraçada
Insone no duvidoso anseio da inútil madrugada.
Ao enfeixar de coragem o amor que à musa devota
Rouba-lhe o beijo de tornar noite escura, enluarada.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

MAQUINA DE ESCREVER



Recuperei a Olivetti Lectera
para poemas que me pedem
certidões de nascimento.

Originais que não se deletem
rascunhos que duvidas revelem
os impasses do momento
na saga da criação.

No verso, a falsa solução tentada
antes do escandir, da burilação
iluminada
e ainda, as máculas imorredouras.

A lírica em seu reverso.

A cibernética suprimiu
a biografia da poética
e a impede de ser legada
às gerações vindouras.

terça-feira, 15 de junho de 2010

um belo poema

Ultravida


Ah! Devolva-me intacta
a brisa perdida nos descaminhos.
Que o cinza não cubra o arco-íris
e no rebento da onda
não me fuja a poesia.

Rejuvenesço,
enquanto o tempo
mata a vida nas dobras da pele.
Carcomidas pela ferrugem das horas
as dobradiças do tempo
não articulam novos movimentos.

A poesia flana na alma
enquanto a morte
agiganta-se na carne.
O corpo atracado no porto,
assiste ao poente
que repete paisagens do que foi
vivido, cismado, divagado, perdido.

A alma, em outras paragens,
navega em mar alto,
com a certeza
de que depois do porto
nada é findo, mas inefável...

Não há como fugir nem fingir, começo a crer:
há um desarranjo no duplo que me faz.

Cláudia Gonçalves & Ednilson de Paulo

segunda-feira, 7 de junho de 2010

POÉTICA DA DOR DE AMOR

Vai a dor como que lhe assalta
Ao cabo de toda sorte, crudel malta
E renova-se, plena, excruciante
Criadora cabal do sentir sobrante.
O amor? Ah, o amor no intimo residente
Também como esta dor toda fundante
Inda que de tão casto, já se esvai
E o peito do ser, ao olvido, lance um ái.
De fato, só quem amou pode saber
O que é conhecer uma dor sem termo
Quando o ser amado não se lhe vier
Nem na noite, nem na aurora; o ermo
Caber-lhe-á como desterro em plena dor.
E o infeliz torna-se ao limbo sem amor.

domingo, 6 de junho de 2010

SONETO DA ALEIVOSIA POÉTICA

Que tema poético exercer para dizer da falta
Que empurra-nos desde a planície aos pontilhões?
Porque a espada da catedra nos faz andar nos pranchões
Se decidir-mos por temática inúbia em trajes de alta?

Amar a musa e inda ter que tocar um destino heróico?
Armar a métrica e apor sempre e certa a sexta sílaba tônica
Ou perder-se na apoplexia de uma estética agônica?
Como é ser simples no verso, e ainda ser um estóico?

Para nascer-se Bilac, meus amores, não há o que se faça
Que é de raro ensejo vir a lume gênio assim da raça.
Sê contente em ser participe no ócio e na lírica labuta.

Só em ter ingresso no panteão dos poetas menores
E já terás comenda para louvar na eternidade.
Certos aleives pode-se honrar como verdade.

terça-feira, 1 de junho de 2010

A Languidez do Poeta




A Cláudia Gonçalves (Cacau)


Um poeta solitário caminha em devaneio.
Vai como triste no marulhar das gentes a reparar.
Dúbio, em perdidas palavras, agrava o pensar.
Estas não lhe trazem o remanso da brisa do mar a meio.

O que lhe falta? O que lhe sobra? Qual o seu momento?
Algo diz bem no fundo que é o tal enternecimento
Que antecipa a ventura de saber o que virá no vento:
- Desde o sul, o minuano, a lira e o sentimento.

Amalga-se, pois, agora a saudade dos olhos de claro mel
E de angelicais mãos que sequer se deram - e pressentidos
Os beijos de rubilita na aragem do outono, - jamais sentidos.

O poeta sonha a musa de apego assaz tão liquido
E lhe vem ao verso à marina brisa e um violino na distância.
À lassidão da lua, no peito o langor d’alma vem aplacar-lhe a ânsia.

Ricardo Sant'Anna Reis

domingo, 30 de maio de 2010

SONETO DAS FLORES MIUDAS

Se o absinto um mar de amarguras retornar
Ou a amarilis no artifício te puzer a navegar
Quede-se feliz o coração no auspício d’alecrim
Como se a fuscia de amor ardente fulgisse em mim.

Ah, se houver primavera de anis a te adornar
E mais um céu sem quase nuvem a branquear
Ah, se jamais real promessa se houver assim
Esteja pronta à inconstância do amor, enfim.

Se da zínia, sálvia ou do tomilho se dispuser
O manjericão ou a cicuta brava na pia
Restarão só os temperos para valer o dia.

Na vida, no tempo ou no amor, as flores
Sejam pois na maior dor ou na mais doce elegia
A dália, glicínia e a cravina, só de ser são poesia.

ALFOMBRA

Em ruas largas
nas praças, ao vento
onde mais houver em que se joguem
perdidas palavras.

Que se as escutem nos gritos
nas feiras livres, nas trovas
onde ao sol urdam-se
versos e sombras.

Em meio à arvores urbanas
como os fícus e os oitís
sob o refúgio das amendoeiras
vão as palavras tecendo alfombras.

Ricardo S. Reis

DOM DE VOAR

Vão-se três pássaros pairando em asas.
Debatem sem revez ou circunlóquio.
Grasnam forte, dedicado alarido.
Que ornitólogo lhes decifra tal colóquio?

Dominam céus em momentos; assim o fazem
Com a alegria inconsentida dos ingênuos
Que alçam vôos inda que internos em casas
Como os amores ao violão plangendo a lira.

Eis que repara na algaravia, desde o pasto, um muar
E com os olhos tristes, de soslaio os admira.
São pensamentos de liberdade a ruminar
Num idear que faz voar mesmo sem asas.

“Que pensas tu, oh burro, diga de pronto!
Revela! Ponha-te a zurrar! Quem te indaga
É um poeta da cidade tão medonho e incapaz
De idéias, um livre verso que seja a adejar”.

Dos píncaros os pássaros severos ao poeta retrucam
Com as asas voejando na imensidade do azul.
Falam: “Basta, oh vate ignaro, de dizer asneiras!
Pobre de quem precisar de idéias para voar!”

domingo, 9 de maio de 2010

CARROSSEL

Que sei eu do bom momento
ou sobre a arte ou a sorte
da vida em Sorrento o que sei arremesso no carrossel nada sei nem da sombra
sob a arvore no dossel. A poesia lunar não se pode tecer em alfombra
sem saber nada em prosa
sem saber nada da morte. O que relata a noite em lume
que vai alta no céu e espetacular
e eu nada sou nem estrume
nem brisa à se revelar nem maresia nas alterosas
nem na beira da estrada eu nada
nem o temor no mar sem cais.
Se de rosas me aterrassem
de medo eu não morria mais
me desfaria em ciúmes restasse somente um verso para sussurrar ao vento, como um gênio da floresta, o supino Ariel.
E eu te diria o meu amor
e te contaria o meu segredo lírico
em total inebrio
e tu displicentemente sorriria tão linda no carrossel.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Verdejar


Caber-nos-á levar como nos apetecer
A enfiada que em si é estar no mundo.
Inventar o reboliço desde túmulo-aquem
À superfície do lago ou no lodo, no fundo.

E que te baste estar vivo para flanar.
Pouco se dá o morrer ou o sobrevir.
Não há como a bruta espera renegar.
O dia novo é também dia de véspera.

Ame, porquanto maior o dia que o desengano.
E ainda que seja o mais doce desatino, ame.
Tudo é muito pouco, nada mais do que pano

A cobrir vergonhas de um viver de indigência
Seja o menino a quem lhe façam vãs vontades
Seja nos vislumbres vãos da douta ciência.

Ricardo Reis 2010

quarta-feira, 21 de abril de 2010

MNÉMÊ(NTIRA)

A Marcus Vinícius Quiroga
O que é a tal da realidade?
Uma dádiva burilada, um repente
diante de dor avara e árida.
Um sentir-se vivo, fidedignamente.
O que é senão um sonho, derivação
o aguilhoar da besta-fera da vida
com a ponta fina do aguilhão
de um amor inventado.
Na consumação metafísica, o amor
se não for o maior amor do mundo
certo sempre será amor maior
que o amor do ser amado.
Fica a mentira
tísica, justa e cristalina
antropomórfica estrada plana
para o auto-engano
fenomenologia escassa da hipossuficiência
O viver é um sentido que se retira
como no circo de cavalinhos
a verdade atrelada à ausência
cavalga a toda brida sob o pano.

Ricardo Reis 2010

sábado, 13 de março de 2010

POÉTICA I

Se queres dizer da poesia
Como Charles Bukowviski
Diga o que for sobre a vida
Que viver é o mistér da arte.

Diz o que voce faz da noite,
Que se encerra no pleno do dia.
E o que preenche o vazio
que no peito te dilacera.

No fundo do quarto, do bar imundo
Do intenso do fundo do fundo de tudo
D’onde tudo vem surgindo, emergindo
E a embriaguez te faz mudo e frio.

Como um fio da insuspeta
E mínimésima parte, a poesia processa
O dia como o grande Mar Aral,
- ao princípio, nasce de um rio

E antes dele, a nascente primeva
E tênue; escassa de peixes.
Fale da vida nanica, vazia e vil.
E, sem precisar, diga-o sempre em poesia.

Ricardo Reis

domingo, 7 de março de 2010

POÉTICA AMOROSA

para a sua alma
sou táctil

para a sua lábia
sou fácil

para a sua gruta
sou másculo

para a sua luta
sou mártir

para o seu ego
sou Sartre

de você mesma
sou parte

Fabiano Silva PA

quarta-feira, 3 de março de 2010

Andanças

Ao poeta Ricardo Sant’Anna Reis


tenho andado inquieto
as ruas todas
seguem sem novidades.

tenho andado a esmo
lento como a tarde
veloz como a vida.

on the road, baby
eu Sigo o meu caminho
mas eu nunca estou só
a poesia dos momentos
vai dentro do meu peito
como se fosse palavras
e assim levado pelo vento
vivo como se escrevesse
um poema feito das coisas
que deixo para trás.

Fabiano Silmes

Complexo da tristeza urbana


Fui no despedaço do recomeço
a paisagem azul, encapsulada
desejos de apreço, mais nada.

Fui como quem se despede da vida
“terra à vista” um grumete brada
sonolento, esquecido na gávea
empalado no mastro
sob velas enfunadas.

Não é terra de todos
o que daqui eu vejo e me despeço
o lapso desnecessário, um átimo
indevido, um corpo enquadrado
na paisagem ácida, dissolvido.

Fui como quem detem um sonho
à parte e ainda
mas, ...que longe!
Se vai a arte da boa vida
na chuva que goteja intermitente
Chuva à toa, inclemente.

A cidade sangra
uma estranha euforia
e força.
E havia a tarde
mordendo os calcanhares
como um cão acima de suspeita.

Antes que entre em cena
a estrela sórdida e vária da morte
saiba que la sonrisa
permanecerá afeita
bem mais ao tempo
do que a Mona Lisa
que carece de sentido;

saiba que permanecerá
na praça de Ciudad Vieja
em Montevideo
o pórtico fundante e roto
que resiste às ocilações sismicas
mas nada diz
da utopia renovada
na cidade e no coração.

Há um Rio que deságua
no mar d’minha alma
O rio de minha Almada
Ricardo Reis
Há para mim uma cidade
de porto na Galiza
Bastavalles
onde há uma selva de eros/erros
onde me quedarei morto.
Me alicio nos nacos deste pão mofado
no olhar cético e que vai alem;
vou absortamente
e não descubro similitudes
com o estar vivo no vivo da solidão.

Há sim as dores difusas no peito
peito sem pai
como em acidentes cardio-estelares
enfartos agudos no negro do céu.

Há cores e vernizes
venturas em tons inúteis, revelados
contra todas as diretrizes do eu.

Malabares. O homem sobrevive
e só. O homem não cura nada
contamina a cidade nua
a vida e a genética.
Não protege a linda menina
que deleita os olhos
e nos salva da ativa degradação.

Não há notícias boas
sobre o mundo
a Cibernética pouco pode.
Há um fervilhar, promíscuo deambular
de obras sem sentido, com sentido, nas ruas
no big show dos pobres na televisão.
Já nós, mais pobres do que bigs brothers.

Temores automotrizes no mar, alto-mar
lá longe, no oceano indico, de vazão
tão antiga e longe que é ante-ontem
e não muda destinos.
Só os muda, a Gato Preto.

No ar, a verdade do povo, a mentira
os amores vãos, passivos, tão de perto
sobreviventes, tão supinos
que as mortes se enlutam da vida
e as mulheres dementes em promissão
carpidam nas crenças
suas disposições ilusórias
para o amor, provisórias porções
de afeto, pouco a pouco, tão pouco
que é quase um nada
e que ainda assim, persiste.

Morre mesmo à mingua
esta gente abandonada.
Não há libertação possivel.
Adentram por cada porta que se abre
e que se vão fechar, incontinenti
ao afeto que não há
em um estranho saber nada
e continuar.

O contrario é ficar
na dor de não ter ido
na dor contida e válida da mãe
diante do filho morto
pela polícia ou pelo tráfico
é ficar o medo de que nos cortem os pés
que doem, tropicantes
afoitos, desafortunados
que só sabem caminhar
na direção do sem sorte.

Sobre o Gávea Trade Center burgues
enquanto me despeço, há uma tristeza
de periferia; chove e tudo é o mesmo, afinal.
As misérias só fedem odores diferentes.
Só as luzes do Túnel Dois Irmãos
se acendem na cidade; túneis não se obrigam
à rotina da urbes.
Restam ilusões iluminadas.
Restam pastiches nas paredes nuas, metralhadas.
Filhos, orgasmos, ilhas, carnaval e enganos
de um amargo coração de algibeira.
Desde o Complexo do Alemão
o dia persegue o dia e a vida
pois que sempre se desce o pano
nas cinzas da quarta-feira.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

ANUNCIO

Vendo Rins em bom estado
Garrafa pra colecionador
Pimenta curtida
Capino terreno
Faço frete
Alugo obras de artes para enfeitar a sua casa
Troco pequenas coisas
Canetas pregos parafusos
Botões cartões
Atraso o relógio
Lubrifico a porta
Tiro merda do cachorro
Cuido do seu jardim
Por alguns reais faço um verso pra você
Invento receitas
E de quebra te dou um soco no olho
Um tapa no pé do ouvido
e ainda engraxo teus sapatos.

Welington de Sousa / RJ
O SEGUNDO LIVRO

para Ricardo Sant’Anna Reis


Em setembro tomei conhecimento do livro. Sei que se trata de um volume de versos. Sei que 119 poemas preenchem suas páginas e no meio desses poemas existe um para mim. Tencionei comprá-lo. O amigo-escritor me prometeu várias vezes o mesmo exemplar que nunca chegou. A timidez impedira a postagem? Teria afundado em auto-mar ou pilhado por piratas? Quais mãos e olhos agora compulsam, lêem e se maravilham? Seriam mais dignos? Nunca saberei. Por algumas noites sonhei com o livro e seu autor. Sonhei suas páginas cheias de beleza e erudição. Sonhei o mundo que outro sonhara, sonhei suas palavras, seus pontos de vista. Sonhei sua melodia, sua eufonia, página a página. Depois sonhei com o autor e seu livro. Sonhei sua guerra com as palavras e sua trégua. Sonhei suas descobertas e suas desilusões, suas tentativas e derrotas. Sonhei suas noites em claro. Sonhei sua persistência. Sonhei, por fim, o livro acabado. Depois descobri que o volume não se acabava, que já era outro: renovável, randômico. Que nele encerravam 119 poemas incertos. Que nele habitavam 119 poemas inacabáveis. Já não desejo a primeira obra (para mim, menos real). Esta, sem a negar, à outra superou.

Obrigado, amigo, pelo presente.

Texto de Fabiano Silva, poeta de Belem do Pará/PA
BRAMIDO EXALTADO


Ó, Ricardo!
Domador de animais invertebrados
taxidermista de criaturas extintas
perdidas na ignorância e lassidão.

Ó, Ricardo!
Teu rio verbal, largo e intempestivo;
imitatório de meu rio natal, o Guajará,
rio de águas profundas e escuras.

Ó, Ricardo!
Poeta abissal, para te consagrar
vesti-me da malha da metáfora:
rompe com teu verso o Tempo

e outros deuses.

Fabiano Silva, poeta de Belem do Pará/PA

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

SER MÃE

Evoca as partes expandidas
lançadas ao mundo, ao engano.
No risco de ser, atua, revolta-se.
Ilha perdida, no filho se ausenta.

A marca de estar, assim, tão só.
Muda, inócua, flutua o olhar
pão, denso ar, nada.
A fala só repete a fala.

Há uma sede de calmaria.
Um fel há, que suplanta a ira.
A cria lhe vem como simbolo
da eternidade, amor e morte.

Retorna um vento ocluso.
E a mãe lambe a ácida cria.
O gen intempestivo e cruel
busca o existir
na vida que já se retira.

ERRÂNCIA

Somos o nada
E também somos
O que pudemos
Ser
Por força
De sentirmos
A claridade
À cada
Amanhecer

Se já é tarde
Na vida
Que o crepúsculo
Sorva o que sobrevier
Inda que triste
Sob revolta
De tudo que não se foi
E mesmo sem
O enternecer

Pouco se aprende
Com a vida
Pois pouco há
Para se aprender

Seguimos, nós
Tortos, no rumo
De um mundo
Que não se avia
Onde o erro
É sempre algo
De mui pouca valia.

Ode à Cecília Meirelles



Ah, que estava eu poeticamente morto,
e o teu frágil encanto, mudo,
desde os Açores de tu avuela,
que letra por letra te ditou...
O teu canto à minha alma tocou.

Ah, Cecília leve de quase nada
desejo de quase tudo.
Um canto místico, um céu maior
assim marcado de estrelas
refletiu-se no mar, o cristal
ressoou em palavras belas
um soneto do amor total
que a pena sentida riscou.

Ah, poeta, o teu poema
esta emoção e este rigor
do absoluto, este afã
da poética pura
da vereda que vazou
para inundar-me o viver.

E a vida precária se augurou
em versos
para me ver renascer.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A LÍRICA

a forma nua
conformação poética
a forma mais pura
academica
um tema lírico
para a contemporanea
emoção

algo assim viagem à lua
e não adormecer na aurora

de resto
romper o simbolico
na madrugada à velar
na expiação da noite
que a tarde veio anunciar

em miséria
sonolento resto
retrato do momento
as mãos lividas
contaminadas
de modelar culpa e gesto

vai a forma mais nua
poética anti-arquitetura
poesia de lassidão
incerta lacuna
desejo de morte

poética crua
navio exótico
se afasta do porto

sozinha no mar
a alma flutua

o que fazer da vida
se ao fazer nada é certo
nada é lírico
sob um pálio pobre
inda que belo o deserto

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

OS SETE PECADOS - GULA

engolir-te feito o sorgo
engole o gado, feito a tarde
que se anuncia como
tenue madrugada

devorar-te com os dentes
incisivos
que destricham a carne
nua e alada
pudenta e crua

como a lingua
que estraçalha
em priaprismo
no corpo do figo
o erotismo

provar-te
suprindo o mesmo gosto
e a repetida gula
de quem se prepara
tanto para conhecer a Deus
quanto a dulcissima
ambrosia dos santos

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ciclo I

a noite já ia alta, perseguindo o fim do dia.
cães e gatos pardos fugidios, se confundiam
errantes, com as almas desencarnadas
na praça provincial

Ciclo II

no silencio da noite inquieta e insone
se abria na lua cheia
à ronda do lobisomem.

correm as mães à fechar janelas
antes que o luar atice
libertinagens às filhas

mas fora os tremores próprios à idade moça
onde cuidados se mostram sem valia
as crianças há muito já dormiam
protegidas do mal pela Ave Maria

pelas frestas se observam passantes solitários
vultos apressados, bêbados em arruaça
(alguns caídos nas calçadas)
que sonham com as alturas do Aconcagua
e no sopé, vales de prados floridos

Ciclo III

na praça, também, somente as flores do canteiro
indefectíveis, cumprem seu ciclo sem dor
mitigadas desde sempre pelas gotas orvalhadas
que caindo, anunciam o alvorecer

EL OTRO YO


De Mário Benedetti

Se trataba de un muchacho corriente: en los pantalones se le formaban rodilleras, leía historietas, hacía ruido cuando comía, se metía los dedos a la nariz, roncaba en la siesta, se llamaba Armando. Corriente en todo menos en una cosa: tenía Otro Yo. El Otro Yo usaba cierta poesía en la mirada, se enamoraba de las actrices, mentía cautelosamente, se emocionaba en los atardeceres. Al muchacho le preocupaba mucho su Otro Yo y le hacía sentirse incómodo frente a sus amigos. Por otra parte el Otro Yo era melancólico, y debido a ello, Armando no podía ser tan vulgar como era su deseo.
Una tarde Armando llegó cansado del trabajo, se quitó los zapatos, movió lentamente los dedos de los pies y encendió la radio. En la radio estaba Mozart, pero el muchacho se durmió. Cuando despertó el Otro Yo lloraba con desconsuelo. En el primer momento, el muchacho no supo que hacer, pero después se rehízo e insultó concienzudamente al Otro Yo. Este no dijo nada, pero a la mañana siguiente se había suicidado.
Al principio la muerte del Otro Yo fue un rudo golpe para el pobre Armando, pero enseguida pensó que ahora sí podría ser enteramente vulgar. Ese pensamiento le reconfortó.
Sólo llevaba cinco días de luto cuando salió la calle con el propósito de lucir su nueva y completa vulgaridad. Desde lejos vio que se acercaban sus amigos. Eso le llenó de felicidad e inmediatamente estalló en risotadas. Sin embargo, cuando pasaron junto a él, ellos no notaron su presencia. Para peor de males, el muchacho alcanzó a escuchar que comentaban: «Pobre Armando, y pensar que parecía tan fuerte y saludable».
El muchacho no tuvo más remedio que dejar de reír y, al mismo tiempo, sintió a la altura del esternón un ahogo que se parecía bastante a la nostalgia. Pero no pudo sentir auténtica melancolía, porque toda la melancolía se la había llevado el Otro Yo.

A BIBLIOTECA DE BABEL


de Jorge Luis Borges


"O universo (que outros chamam a Biblioteca) compõe-se de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro, cercados por balaustradas baixíssimas. De qualquer hexágono, vêem-se os andares inferiores e superiores: interminavelmente. A distribuição das galerias é invariável. Vinte prateleiras, em cinco longas estantes de cada lado, cobrem todos os lados menos dois; sua altura, que é a dos andares, excede apenas a de um bibliotecário normal. Uma das faces livres dá para um estreito vestíbulo, que desemboca em outra galeria, idêntica à primeira e a todas. À esquerda e à direita do vestíbulo, há dois sanitários minúsculos. Um permite dormir em pé; outro, satisfazer as necessidades físicas. Por aí passa a escada espiral, que se abisma e se eleva ao infinito. No vestíbulo há um espelho, que fielmente duplica as aparências. Os homens costumam inferir desse espelho que a Biblioteca não é infinita (se o fosse realmente, para que essa duplicação ilusória?), prefiro sonhar que as superfícies polidas representam e prometem o infinito... A luz procede de algumas frutas esféricas que levam o nome de lâmpadas. Há duas em cada hexágono: transversais. A luz que emitem é insuficiente, incessante.(...)"
ESCRITO NUM LIVRO ABANDONADO EM VIAGEM

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ofício de Viver


a disposição dos espaços
o burburinho buliçoso
das borboletas corais
o engenhoso trabalho do besouro
roendo a lenha aos nacos.

na servidão dos caminhos
acerados pela relva
sorve, o passarinho
para o seu canto matinal
as gotas de orvalho
ficadas da noite.

o filhote gorjeia no ninho
no alto de um pé de pau.
um balido gesto, que seja, um ato
introduzindo nos princípios da tarde
a sinfonia magistral dos insetos
grilos e cigarras, para ser exato.

o céu, corta-lhe
o vôo planador da seriema
olhos de lince
caçando a cobra buraqueira.
no longe, crianças brincando
celebrando a vida inteira.

e o dia, então, se exerce
de um modo pluriforme
sob o impacto da perfeição
daquele único e tênue momento.

não há razão para tragédias
crueldade, anulação de sentimentos
na forma do natural desdobrar
de um destino de ocorrências.

dado fosse ao homem alcançar
a virtude em o seu ofício de viver
fincaria os pés no barro
deixando a vida acontecer.
Olhos baços

Tentar outros olhos/olhares
outro tempo no mesmo rosto
o retorno medindo a partida
novos lugares, nova vida.

Tentar no amor que apraza
em doses homeopáticas
na vã ciencia
reações assintomáticas.

A voz de barítono
o timbre de clarineta
o grito correndo
no stratu
vibrações estáticas
da existência.

Se derramam por sobre a terra
por hemisférios, as lavas
de um ativo ou extinto vulcão.

São os mistérios da poesia
que brilha na fonte cristalina
de teu olhar, na eclosão da sede
que nenhuma arte sacia.

O Tempo Carbonário


Maio de 1968. Em Paris as barricadas de “Danny Le Rouge” espalham-se pelo Boulevard Saint Mitchell e se irradiam pelo mundo. Os ecos concêntricos da ideação política criadora crepitando no fogo dos carros incendiados nas esquinas. Afirmava-se o estar em sociedade, de forma critica, herança paterna dos Girondinos da Revolução fraternal de 1789. Distraída, uma jovem muito linda observava o lume clareando
as cercanias e o seguir de um pequeno barco pelo Sena, em calma existencial e transcendente. Na ponte gótica em arco a menina sem magoa, musa da liberdade e dama pura do ideal romântico, deixava fluir os pensamentos, debruçada na amurada. Vê, também, o seu semblante triste se refletir na água. O barco seguia o curso do rio de velas içadas, como metáfora do juvenil movimento. Ela acompanhava-o com olhos próprios da tenra idade, em que, na descoberta da vida, também a ilusão se desfazia sob as marolas de alheamento do haxixe e do ópio. Pensava a musa no amor eterno. Ah, como me alegra imaginar tal desvelamento fundador de atitudes, nas ruas, percorrendo em velocidade. A velha Franca, a velha terra que se afastou da Renascença, vivia a derrota inevitável. A Imaginação no Poder ia mudar o mundo. Destruir a fé nos avatares do colonialismo, do terror global, da detente americana. Jovens artistas insubmissos passeavam pela cidade com o ar de entojo, tipicamente francês, rejeitando os costumes carcomidos do vetusto burguês. Não vejo mais o barco. Distancio-me da Pont Neuf e de sua sobriedade medieval católica. Por quatro décadas velei em minha mente, de olhos cerrados. Via-a (a menina) estática, em cinematográfico plano longo, musa plangente. Ficou na ponte mirando-se, bela, nas águas do sensual burgo parisiense, entre as memórias da rebeldia, um barco a vela, indo e vindo, ali ficou eternamente. Cena linda de se ver para o voyeur do tempo. Cena tão cara, digna da invenção de Lumiere. Sem respirar o velho tempo fez um desafio que à Revolução não se destinava: O tempo parava. E parado, assim, ficava num lívido assente. Tudo para que pudesse dedicar-se ao encanto/desencanto de assistir à menina, quando esta, revelada mulher, sentia-se espantada com a bem-aventurança. Porque é tão recorrente e clássico o tema da beleza feminina. Porque incendeia a alma, é carbonário e também, motivo de celebração, que uma mulher tanto nos alumbre, sendo uma coisa tão rara, a musa, muito embora tão presente.

Copacabana




o bairro de Copacabana, em luz diáfana
vive carregado de sua preguiça diurna
de seus pecados soturnos, da noite
com as suas emoções prévias.
ai de ti Copacabana, que em tudo
te perdoam os devotos de tua elegia
para que disponhas, eternamente
a passarela de pedras portuguesas
ao cair da tarde
e te permitas às lascivas línguas
das ondas brancas do mar
que te sorvem
desfazendo o contorno duro das formas
e fazendo-te entranhar
mais e mais
em nossas almas citadinas.
ai de ti mulher mundana
vestal senhora
que caminha nua pela noite.
eros não te condena; antes
te comemora
e ao teu trotoir de malícias
e abriga-te em colo divinal.
não irão, também, macular-te
os homens severos
pois és afinal, Copacabana.
apenas permanecerás
digna e condenada
à uma insonata secularidade.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

TODO APOIO À LUTA DOS GALEGOS POR LIBERDADE CULTURAL


Você sabe onde fica a Galiza?

A Galiza é uma região junto ao norte de Portugal, próximo a Trás-os-Montes, onde nasceu a nossa língua. É a Pátria Mãe (ou Nai, em galego) de nossa Língua Portuguesa. Rica em tradições que remotam a constituição do homem ocidental, a Galiza possui um povo com espírito guerreiro, constituído a partir da cultura céltica, com enormes vínculos com entes naturais e sobrenaturais que habitam o seu imaginário e os seus bosques druidescos.
É um lugar onde se respira magia, poesia, beleza e tradição. A cidade de Santiago de Compostela é na Galiza. É uma nação estabelecida por poetas (Rosália de Castro, Eduardo Pondal...) que lutaram pela prevalência de uma identidade cultural galega, da língua galega, contra toda a tentativa de sufocá-la. Por razões histórico-políticas, seu território foi anexado à Espanha que desde há quinhentos anos tem buscado anular a identidade cultural do povo galego, obrigando-os a ortografia e ao falar do castelhano. Mas, fato surpreendente para nós brasileiros, este povo sempre resistiu às pressões, nunca abandonou sua identidade galega, mesmo se espalhando pelo mundo. Um povo que tem memória e que resiste galhardamente às proibições de que se falem a língua materna, o Luso-Galaico (bastante similar ao nosso português).
Recentemente foi constituída a AGALP – Academia Galega de Língua Portuguesa, com o decisivo apoio da ABL, através do acadêmico brasileiro Prof. Dr. Evanildo Bechara, nosso maior lingüista. Os galegos têm promovido manifestações a favor da Democracia Cultural, da cidadania liguistica, manifestações estas que tem sido duramente reprimidas pelo governo espanhol, que nesta matéria parece usar os métodos e argumentos de seu passado franquista. Imagine você, brasileiro, se lhe fosse proibido falar em seu idioma? O que você sentiria? Esta é uma causa de caráter humano, cultural e democrático, a qual vale à pena abraçar.
Ricardo Sant’Anna Reis, sociólogo e poeta, membro do Conselho Científico da AGALP.

Saiba mais sobre esta nobre luta cultural
(Carta escrita em galego pela poeta Concha Rousia, membro da Academia Galega de Letras Portuguesas, e uma das lideres do Reintegracionismo, que luta por fazer a Galiza membro efetivo da CPLP – Comunidades de Países de Língua Portuguesa).
“Nosso pais chamava-se Galaecia (de Gallaecia ou Callaecia, em Latim, Terra dos Kallaeci ou Calaicos). Com povoamento continuado desde antiguidades fabulosas já existia como território diferenciado quando os romanos, no século II antes de Cristo, procedem a sua integração e impõem o Latim. É um território singular reconhecido na Europa desde a Idade do Ferro, ainda que existam testemunhas arqueológicas a certificarem o seu povoamento desde o Paleolítico Inferior, e como parte já desde a Idade do bronze da Área cultural atlântica, conformada pelas costas Ocidentais e ilhas européias. Nomeada como província do império Romano na sua extensão original desde a Divisão de Dioceclano (298) respeitada durante muito tempo, enquanto esse império ocupava o resto da península, e grande parte da Europa. Constituída como Reino Independente polos Suevos (em 409) foi um dos primeiros estados da Europa. Integrado em 585 à monarquia visigótica recupera a sua identidade com a chegada dos árabes a Hispânia (711). Motor militar e econômico do Ocidente da Península ibérica, o Reino da Galaecia tinha como língua a mesma que segue a ter, e que na altura se chamou galego e que internacionalmente se conhece como Português. A nossa língua foi desde o seu nascimento a língua nai de poetas, os Provençais afirmavam que apenas se podia trovar numa quantas línguas: Provençal, Francês, Galego, Toscano e Siciliano... E há quem diga que a língua Galega foi a que influenciou a língua da Provença e não a inversa... há quem diga também que o celebre poeta Dante Alighieri teria escrito originalmente o seu clássico “A Divina Comédia” em galego. Como quer que fosse era língua de cultura e poesia. As vicissitudes da história (escrita não por nós e mal contada) fizeram com que aquele reino se partisse em dous, ficando separados para sempre, com o tempo e as alianças a parte que é a Galiza atual, foi ficando mais é mais ao serviço dos interesses de Castela, quem usurpou o seu protagonismo histórico e sempre se encarregou de a castigar. Primeiro fazendo ir a menos a menos a sua população que era muito numerosa, e depois controlando os seus recursos... até o dia de hoje. As normas impostas desde Castela desde há 500 anos foram fazendo com que a gente perdesse a sua escrita. A nossa língua foi então língua falada sem escrita. Mas sempre houve nos espaços cultos um elo nacional e elementos transmissores da língua, especialmente desde meados do século XIX num processo de recuperação que chamamos "Rexurdimento" que provocou uma aceleração político e cultural nas reivindicações lingüísticas e nacionais que chega até a Guerra civil espanhola (1936-39) e onde abrolham os nossos mais importantes vultos literários (Rosália de Castro, Manuel Curros Enriques, Eduardo Pondal, Daniel Castelão, Otero Pedrayo, Vicente Risco). Após uma brutal repressão (fuzilamentos, processos judiciais, depurações, exílio) nos anos da ditadura franquista do 1939 até 1975, nossa língua era proibida mesmo na sua forma oral.
A nós se nos castigou duramente nas escolas, com castigos físicos até, para que abandonássemos a nossa língua e falássemos apenas o castelhano. Mesmo assim, a nossa cultura deve ter tal força que nunca conseguiram que a gente deixasse de falar. Embora aos poucos a gente vai cansando e muitos, a cada vez mais, nos últimos 20 anos passamos de um 90 % de falantes a talvez um 70 %. O último como que agora nós atacam é a defesa dos falantes de língua castelhana que moram na Galiza. Desde finais dos anos 70 que morre o ditador Francisco Franco, permite-se-nos falar e escrever na nossa língua mas com muitos atrancos, e com muita discriminação, a dia de hoje há pessoas que são despedidas dos seus empregos por utilizarem a nossa língua, outros é-lhes exigido que falem apenas castelhano com o público e com os companheiros de trabalho.
A ortografia que escolheram os governantes no seu dia, desde que se nos permite escrevê-la, foi a do castelhano, uma aberração do ponto de vista lingüístico e mesmo histórico. Mas há também quem pense que eles não queriam que a língua se relacionasse com a de Portugal nem do Brasil e criaram uma ortografia que chamamos de norma Instituto da língua Galega/ Real Academia Galega, mas que é um engendro terrível que faz é desvirtuar e ir afogando a nossa riqueza lingüística e fazer com que o galego a cada dia se pareça mais com o castelhano, e vá sucumbindo. Não vou pôr nome a isto, a história se encarregará de fazer.
Com as políticas feitas desde Madrid, com 10 canais de televisão a falar em castelhano (na nossa língua apenas 1) e as TVs de Portugal a dia de hoje proibidas (por Espanha) no nosso território, enquanto em Portugal sim que podem receber a TV da Galiza e todas as TVs espanholas) com jornais, e com os cinemas e demais todo em castelhano. A cada dia a nossa língua perde falantes, e perde a sua qualidade e originalidade. Portanto como o numero de falantes de castelhano vai em aumento começam as vozes dos defensores do castelhano que querem limitar ainda mais a nossa língua. Querem o que eles chamam 'liberdade de idioma' para que a gente que não quiser não aprenda galego nem na escola, enquanto o castelhano estamos TODOS obrigados a sabes e usar. De novo, não vou por nome a isto, que a história o faça um dia. Mas que não tarde. Tal como nós o vivemos, estamos sitiados, se não conseguimos ganhar força para a nossa língua ela morre e não tarda. Mas como ganhar força se nós estamos a cada vez mais débeis? Aí é onde entra a Lusofonia, de sempre na Galiza há unha corrente que luta pola integração do galego no português, a dia de hoje os linguistas não poderiam defender outra cousa que não seja que galego e português são a mesma língua, com duas historias muito diversas, mas apenas uma língua.
O nosso propósito é fazer visível a nossa realidade no mundo inteiro porque é de uma grande injustiça histórica o que aqui acontece, e é também um drama humano que haveria que evitar, mas nós sozinhos não podemos. Nós resistimos e resistiremos, mas necessitamos reforços dos nossos irmãos de língua, de nossos irmãos da Lusofonia. É com esse propósito que tem nascido muitos movimentos na Galiza, e tem nascido também a AGLP (Academia Galega da Língua Portuguesa). Se a nossa língua se pode fortalecer nós somos quem se tem que encarregar de conseguir esse fortalecimento.
Por outro lado eu sei que a língua na Galiza, por ter estado isolada, ou mesmo até por isso, conserva léxico e usos que a língua tem perdido no resto dos territórios, por tanto acho que se a língua se perder aqui onde, junto com o Norte de Portugal, está o seu berço, a língua vai perder uma de suas raízes mais profundas e vai-se ressentir, vai ainda padecer mais da já incurável saudade. É por isso que eu acho que é da incumbência de todos os falantes de português, morem onde eles morem, defender a língua na Galiza, pois também a eles pertence.
Eu sei que os irmãos da Lusofonia, dos quatro cantos do mundo, se importam com a nossa língua é por isso que a eles eu, quanto que poeta e contadora de histórias, quero levar estas idéias. Vão nas assas de uma melra que me fala desde o pessegueiro, e que me ajuda a escrever os meus poemas”.
Um abraço meu (minha) irmão(a) brasileiro(a)

Concha Rousia, Escritora, poeta galega e psicoterapeuta.

Se você se sentiu tocado pelo relato e quer ajudar ao povo galego a retomar o direito a livre expressão em sua língua natal, deixe um comentário-protesto a este respeito no site da “Xunta de Galícia”, organismo governamental que compõe o aparato repressivo sobre o povo galego por parte dos Espanhóis. O link é: http://www.xunta.es/envio-de-consulta-ou-comentario

PERFEIÇÃO


Mulheres com seios fartos
e corpos quentes.
Este sonho se repete
e as mulheres reincidem em mim
a alma de um pintor renascentista.

Seus corpos como pranchas
imaculadas, prontas à se preencher
com as mais vivazes cores da paleta;
ocre, vermelho carmim
amarelo ouro palestina
verde da profusão marinha
o azul prussiano...
As tintas vão espalhadas, secas e molhadas
pela saliva, pela ávida língua
no fio da terebintina.

Ao fim, a perfeição
de um ícone neoclássico
iluminura da mentira plástica
vazia, mas perfeita
como a ilusão de um quadro falso
no quarto de dormir
sobre a parede nua
lisa e fria.

domingo, 31 de janeiro de 2010

MAGNETO


Ficar perto, sumamente perto
de quem se possa fiar
assim, de peito aberto.

Um lugar para quentar o sol
um canto escuro
para ficar quieto.

Ficar perto, sumamente perto
mais que perto, na trilha
que atravessa o deserto
da vida inteira, passo a passo
à buscar a sombra da tamareira.

Ficar perto, sumamente perto
das divinas mesuras
das mentes mais puras
como as mentes das crianças.

Perto da arte e da esperança
no homem; perto da poesia
e que esta seja um magneto
à repelir percevejos
e trazer amigos para perto.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Um belo poema da paranaense Andréa Motta


Seiva


Alimento-me de poesia
desta arraigada nos subterrâneos
do meu templo profanado
desta intrigante agitação do pensamento

Alimento-me da poesia
parida em fragmentos
que pigmenta cálidas palavras
soltas numa folha de papel

Alimento-me de poesia
desta que jorra como semém
e transborda por minhas veias
gotejando feito seiva

Alimento-me da poesia
desta que brota do espírito
e revela a alma

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

ANUNCIAÇÃO

A poesia é um fato da cultura.
Uma necessidade irrecorrível
do espírito
e da existência humana
agua que corre no leito do rio
e encontra sentido
no corpo seco que a absorve.

Também para viver o amor
deve o corpo enternecer-se.
Para o ofício da grande dor
ou para um vaticínio qualquer
deve ter-se o coração queimado
a tocos de cigarro.

E aí a poesia nos socorre
valendo-se da memória
afectiva e imaterial
nos protege do escárnio
e da aridez de sentimentos.

A poesia traz para o âmbito
de um querer holistico
o sublime do beijo
o alheamento do olhar apaixonado
o ardil na mente
de um vigoroso pensamento.

Não se precisa chorar
um vale de lágrimas
se podes ter na algibeira
um belo poema romantico
como emplastro miraculoso
essência balsamica
lenitivo de sonhos
antídoto ao veneno
de uma noite lúbrica
ou fria e sem amor.
A poesia nos conduz, à salvo
ao primevo amanhecer.

Se a tí não for dada
a condição precária
da absíntica inspiração
deixe a poesia ser
o que for em você.

Deixe-a falar, fluir
de você, apenas.
Nada queira.
Lembre-se dos evangelistas
escribas das escrituras sacras
que nos legaram versos
e não vetusta a esterilidade
de leis religiosas.
Arte, apenas.

Foram homens pósteros
com espíritos cativos
que ali quiseram
normativas ver
onde havia inquestionável
e lírica prosa.

Estar convencido
é não mais saber.
Uma mentira, quando bela
uma duvida
fazem mais pela humanidade
do que qualquer das inúmeras
e instituidas verdades.

Depois da morte
só fica a invenção.
O mais renomado poeta
não é mais que o menor
e desditado profeta
desta difícil tarefa
de tão grande alarde
que é pregar a vida
e a arte
fazendo da poesia
a anunciação.

Ricardo S. Reis

PRINCÍPIAR

No principio
todo amor era franco
todo desejo, jubiloso
toda poesia, liberta.

A princípio
os homens deviam cuidar
de apenas ser
por princípio;
dever-se-ia afrontar
o poder
o inefável domínio
do dinheiro
a baldia vaidade
o senso arbitrário
do esteta.

Como princípio
do inicio ao fim
apenas uma
desabrida verdade:
- Se tudo na vida se retira
ao sentido, que seja
o Amor
aquilo que nos resta.

Ricardo S. Reis

AGRIDOCE

acre é gosto e sépia
ocre é rosto e nuvem
acre é chuva é cor i
nexistente inexpugná
vel contextura ocre
é a penumbra vazada
acre é o norte é o
azul (a cor da morte)
agridoce em teu corpo
manifesto está a mor
te anunciada ocre é a
paixão acabada nos ol
hos de quem vence a m
adrugada ao amanhecer
de quem na encarnação
do dia vê a primeira
luz tremeluzir no céu

ANT'ECLESIAS (Haiti)

Os sinais do Apocalipse, o fim do mundo
Juan de La Cruz e a prognose pantagruélica
As vãs profecias de Nostradamus
As visões de mistério e a alta Stela
Dos princípios Alfa ou Omega
A morte e a vida, érebo de serralhas
O anjo primeiro a ditar finda ecógla
Candelabros da Eclésia de Éfeso
Alumiando a glória de Deus nas alturas...
Pois que é a luz que do chão, alumia
desde as profundas.
Dão-se glórias excelsas às trevas, ao rei
das Fornalhas
Ou das grandes águas, dos tremores
Satã, Balaão, Pai da Sinagoga
Que, dos tempos, vaticina solidões amargas
neste mar de misérias, dracmas, cevada e lagrimas.

Ricardo S. Reis

Da poeta e amiga Marcia Barroca / RJ


NOTRE DAME E CÍRIOS ACESOS

Jamais visitarei Paris
sem o poeta de meus sonhos

O cheiro dos croissants
para nossa alegria
soa na poesia das ruas

Prolifera-se

Não carregarei o fardo
da Paris solitária

Às escuras

O grito explode no coração
Irrompe pela garganta
Escorre no poema cifrado

Deus conhece o mistério
que perambula nas almas

Decifra-nos desamorosos?

Bebes meu sangue
Mas não salgarei
minhas lágrimas

Os sinos de Notre Dame
sugerindo círios acesos
iluminarão nossos passos

Marcia Barroca

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

QUADRANTE


O amor: Quantos serão os lados
do sentimento enquadrado?

A dor: Quanto dela existe
no morrer que se revela
no viver que ainda insiste?

A arte: Como viver
simplesmente
sem a transformação?
Sem tornar o nada em belo
sem fazer da vida um libelo
pela constante recriação?

A morte: Cabe-nos torná-la
parceira
deste viver sem fronteiras
deste amar sem perdão.

http://www.youtube.com/watch?v=vD4tX67qrBc

Parceria de Dico Wanderley (Letra) com Jonas Ribas (Musica)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

QUIETUDE



pela abrumosa fleuma do pântano onde aflora a flor do lácio segui-te com o coração dilatado aos pulos segui movido pela paixão que dissolve tudo derruba muros e que de pronto ameiga a vida em um silencio grande de não importar e este o silencio de tão grande terá a veemência assertiva de um surdo-mudo e só um terno momento de inebrio em que se apure os ouvidos permitirá escutar o silencio já que este vem da própria quietude do esquecimento

domingo, 24 de janeiro de 2010




tempo de vapor
e eternidade
espaço tempo
silogismo banal
escorre eterno
e sem temor
voa o tempo
éter contratempo
éter contra o tempo
vento industrial
a inércia do pensamento
a saudade
do tempo pretérito
do rio caudaloso
do leite quente com broa
da relva para amar
nos confins da tarde

tempo que recobre-se da urgência
de ser–não–ser como se mais não fosse
tempo que cavalga paisagens
tempo da demência
e do encontro

se o corpo sofre o seu passar
a alma arde um contraponto

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

SUICIDE



Uma arma na fronte
Resolve um problema
Que desde Creonte
Apresenta o dilema
Revólver niquelado
Escolher o caminho
Da virtú, que é para frente
Do poder, que é para o lado.

Na passagem de se ir sozinho
E para se evitar a dor
Só um Cohiba te protege
Nunca o céu do criador.

Nesta última jornada
Adentras, enevoada
Branca estrada em que
Matar-te-á o galego salteador
Dos bosques fimbrios da alma
A mando de um cruel dogde
Com uma faca na cinta
e a pistola no colete.

Já que é a hora da boa morte
Morte de homem, se diga
Pegue um bom charro no alforje
Para não morrer indigente
Para que teu ultimo sopro
Não lhe venha de falsete.

OS SETE PECADOS - VAIDADE



Esperai, sinceros poetas!
Não demora o lírico encontro
entre o belo e o devaneio
entre a sede e a saciedade
entre a essência e o floreio.

Esperai, céleres poetas!
Não tarda assistir-se
ao sacrifício da rima;
nem a subir-se morro à cima
e em fortuna funesta
atirar-se do penhasco.

Esperai, poetas da cidade!
Pelo dia que não custa
em que, drummodianamente
em farra honesta, a poesia
liberte-se da vaidade.

OS SETE PECADOS - LUXURIA




A rede já não balançava.
Era sexo selvagem de fato:
O índio dormiu no ato.

A índia, que estava animada
Ficou há ver navios no longe.
Esperava os marujos louros.

E enquanto não chegavam
Aqueles tais holandeses
Dava-se, assim mesmo
Aos portugueses
Mas só pensava nos mouros.

Olhando ao longe o navio
Sentiu-se bem excitada.
Avistou um mastro enorme.

Nadou pelo mar, a galope.
Fogoso é o tempo que urge
E se fartou com o marujo.

Agora, a pobre indiazinha
Só vive na praia acenando
Prá todo barquinho que surge!

OS SETE PECADOS - IRA



por vezes me toma um tal calor
que de grande me arde por dentro
quase que o fogo do inferno
queimando;e eu não me agüento.

por vezes se introduz neste ardor
em meu intimo o veneno melífluo
e viscoso à que chamam de Amor.
ah, vicio nefasto que contamina!

ah, sentir que queima em perene pira
de fulgor e de medo, diva da infinda sina.
ah, este sentir que calcina a alma refratária
na obscuridade deste amor tornado em Ira.

Do amigo e poeta marajoara, Fabiano Silva / PA

BRAMIDO EXALTADO


Ó, Ricardo!
Domador de animais invertebrados
taxidermista de criaturas extintas
perdidas na ignorância e lassidão.

Ó, Ricardo!
Teu rio verbal, largo e intempestivo;
imitatório de meu rio natal, o Guajará,
rio de águas profundas e escuras.

Ó, Ricardo!
Poeta abissal, para te consagrar
vesti-me da malha da metáfora:
rompe com teu verso o Tempo

e outros deuses.
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AMOR FECUNDO




Percorro de novo os limites da farsa
de que fizemos parte
as tonalidades do claro/escuro
os encantos de esquina
as ameaças de desmoronamento
os muros e a noite aberta
sobre a avenida.

Possuí teu corpo tantas vezes
como se fora o alimento
ostras vivas, ambrósia da alienação.

Imaginei-te comigo no despertar
da nova aurora e tive o desejo libertário
de construir na vida
um roteiro para os melhores significados.

Deste amor quase anarquia
que tentei profundo, pequena alma
tempo presente e passado
quisera que uma lembrança
tivesse restado; uma semente terrena
uma reminiscência sensível
que fosse e a certeza de que
ainda assim teria valido a pena
este amor tão seu, tão meu, do mundo.

Poema coletivo de Bilábernardes, Claudia Gonçalves, Zé Salvador, Carlos Newlands e Ricardo Reis.


Rimas que voam

Uma folha cai
e o seu barulho é trovão.
Uma pedra cai
passarinho no alçapão.
Um poema sai
ao alcance da emoção
deixa marcas no coração.
A vida se esvai
como num pássaro ferido
na desilusão, em plumas
no vagaroso trilho
que se abre à mansidão.
E seguindo a vida
vai o verso furtivo
como a ventania que não vem.
Da novidade que trazia
este verso sem métrica
de poucas metáforas
a vida queria um canto novo.
Ah, verso que foge na brisa
deixando-nos sem alento.
abandonando-nos às rotinas
despedaçando-se lentamente
porque tudo, nada diz.

Aqui, rimas ao vento.


Poema coletivo de Bilábernardes, Claudia Gonçalves, Zé Salvador, Carlos Newlands e Ricardo Reis.



A Falta que me faz

Apuro o sentido
e não sinto mais
fluir o teu caminhar noturno.
Capturo sonidos
uns risos
que serem os teus eu intuo.
Espero, procuro, mas, nada.
Onde estarás?
A noite me vai triste
assim sem o soar
de teus almejados passos
para alem da plataforma
do desejo de ver-te vindo
em meu encalço
para me diluir em teus braços.

Sem Receio



Queria reter o momento
na eternidade dos olhos

Sentir teu calor um segundo
descendo em teu colo
profundo

Teus lábios
teu hálito de menta

Decidido e sem receio
o dorso de minha mão
tocando-te de leve
nos seios
bulindo a pele tua

Queria encher os meus dedos
com os anéis de teus cabelos

e por fim beijar-te em silencio
te fazendo eterna e minha
roubando-te a forma nua
em um amor disposto
na relva
sob a luz prateada da lua

Matinas



Levante da cama dura
Preparando a semeadura
No priaprismo matinal
Nesta ausência rediviva
Em que tens maestria.

Recorra ao suspiro que
Sustenta o corpo e silencia.
Se banhe de sol, almoce
E depois jante.
Aprenda a viver o dia.

Risque em algum papel
Um poema que se agigante.
O herói já lançou ao mar
Suicida, a identidade galante
Sob o azul do céu de Niterói.

Apeie do ginete
E sacuda o pó d’estrelas.
Acorde dissonante lorde
À vida. Domine o tédio
Na pálpebra, revele a tua elegia
Verseje, aproveite
Que para ser poeta hoje em dia
Não se precisa ter cátedra.

SEDA PURA SEDUÇÃO




Eu te quero e quero
porque te quero
seja chique em poesia
seja brega num bolero.

Eu te quero e quero
porque te quero.
Os entraves da vida
o mato crescido na trilha
eu corto tudo no cutelo.

Dos acertos o maior foi amar-te
Dentre os erros, quase nada
a comparar-se
ao pecado do sentir
no arrepio do toque
na seda pura do teu corpo
teus mamilos a eriçar.

Perdido entre os teus pelos
finda-se para mim o medo
vivo a terminação dos anseios
no inebrio de Puro Eros.

Eu te quero e quero
apenas porque te quero.

Evoé!

Saiba que a sua visita e o seu comentario dão sentido a este espaço, que alem de divulgar poemas, quer conversar sobre a vida. Esteja em sua casa.

Ricardo Sant'Anna Reis 21.9170-9004

Ricardo Sant'Anna Reis  21.9170-9004
"rondava a rosa à poesia pelos jardins das flores tanto mais diversa a rosa quanto mais forem os amores". Sociólogo, poeta e editor, publiquei em antologias e recebi alguns premios literários. Tenho dois livros: "Diario da Imperfeita Natureza" e "Derradeiro Prelúdio" (no prelo). Pretendo aqui interagir com voce sobre poesia ou qualquer outro assunto relevante.

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