domingo, 27 de junho de 2010

A AMANTE SÍRIA DO REI

Faz-me o pasto à infausta flama
E confio, desde este canto e mudo
Donde inda á sorrelfa te perscruto
Que antes cuide o peito de quem ama.

Que por meus cuidados e ardores
Preenchendo plena o meu frio leito
Deixes de lado o fausto e o eito
E atentes só aos meus amores.

É quem te ama que assim protesta
Neste ofício vão da esperança perdida
De ter-te inteira depois da lida
Prazenteira dama da intima festa.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

CANÇÃO DE AMOR E DE EXÍLIO

Amo-te tanto, oh, passarinho, em teu vôo ao torpor
Como havia de amar-te presto em teu livre resplendor.
Meu bem! Meu amor! Acolhe o pequeno pássaro cansado
Que em asas leva a ti este meu louvor.
Amei-o ao vê-lo ao chão, ciscante, e por tanto
Por ter lesto o portal do céu cruzado.
Ah, passarinho que carregas o meu desejo e legado:
Depõe-nos aos pés da Bela Donna com todo o ardor!
Que esta sinta então a intensidade de um beijo!
Dizlá que ando triste inda que pola fé mais cabal
Decida-se-me como pena a dor maior deste distante amor
Dizlá, passarinho, que transpõe o grande pélago
E de pronto à mia casta donzela tributa este carinho
Desde aziago desterro, co’as tristezas deste amar sozinho.

terça-feira, 22 de junho de 2010

DESACERTO

A donzela-musa o surpreende no beijo ausente
Em que a magoa que lhe dobra se pressente
Aceno tíbio, inaudito adeus de moça afrontada
Não dava mais contas dos mimos seus por nada.
Pensa o vate que não há de pirata um tesouro
Ou a beleza que lhe possa acudir um esteta
Que valha o nevoar do âmago, o desdouro
Da amada que se crê preterida pelo poeta.
Este, penitente, se renova em harta devoção
Derribando humores outros da eterna promissão
Amando assim transido, não a quer embaraçada
Insone no duvidoso anseio da inútil madrugada.
Ao enfeixar de coragem o amor que à musa devota
Rouba-lhe o beijo de tornar noite escura, enluarada.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

MAQUINA DE ESCREVER



Recuperei a Olivetti Lectera
para poemas que me pedem
certidões de nascimento.

Originais que não se deletem
rascunhos que duvidas revelem
os impasses do momento
na saga da criação.

No verso, a falsa solução tentada
antes do escandir, da burilação
iluminada
e ainda, as máculas imorredouras.

A lírica em seu reverso.

A cibernética suprimiu
a biografia da poética
e a impede de ser legada
às gerações vindouras.

terça-feira, 15 de junho de 2010

um belo poema

Ultravida


Ah! Devolva-me intacta
a brisa perdida nos descaminhos.
Que o cinza não cubra o arco-íris
e no rebento da onda
não me fuja a poesia.

Rejuvenesço,
enquanto o tempo
mata a vida nas dobras da pele.
Carcomidas pela ferrugem das horas
as dobradiças do tempo
não articulam novos movimentos.

A poesia flana na alma
enquanto a morte
agiganta-se na carne.
O corpo atracado no porto,
assiste ao poente
que repete paisagens do que foi
vivido, cismado, divagado, perdido.

A alma, em outras paragens,
navega em mar alto,
com a certeza
de que depois do porto
nada é findo, mas inefável...

Não há como fugir nem fingir, começo a crer:
há um desarranjo no duplo que me faz.

Cláudia Gonçalves & Ednilson de Paulo

segunda-feira, 7 de junho de 2010

POÉTICA DA DOR DE AMOR

Vai a dor como que lhe assalta
Ao cabo de toda sorte, crudel malta
E renova-se, plena, excruciante
Criadora cabal do sentir sobrante.
O amor? Ah, o amor no intimo residente
Também como esta dor toda fundante
Inda que de tão casto, já se esvai
E o peito do ser, ao olvido, lance um ái.
De fato, só quem amou pode saber
O que é conhecer uma dor sem termo
Quando o ser amado não se lhe vier
Nem na noite, nem na aurora; o ermo
Caber-lhe-á como desterro em plena dor.
E o infeliz torna-se ao limbo sem amor.

domingo, 6 de junho de 2010

SONETO DA ALEIVOSIA POÉTICA

Que tema poético exercer para dizer da falta
Que empurra-nos desde a planície aos pontilhões?
Porque a espada da catedra nos faz andar nos pranchões
Se decidir-mos por temática inúbia em trajes de alta?

Amar a musa e inda ter que tocar um destino heróico?
Armar a métrica e apor sempre e certa a sexta sílaba tônica
Ou perder-se na apoplexia de uma estética agônica?
Como é ser simples no verso, e ainda ser um estóico?

Para nascer-se Bilac, meus amores, não há o que se faça
Que é de raro ensejo vir a lume gênio assim da raça.
Sê contente em ser participe no ócio e na lírica labuta.

Só em ter ingresso no panteão dos poetas menores
E já terás comenda para louvar na eternidade.
Certos aleives pode-se honrar como verdade.

terça-feira, 1 de junho de 2010

A Languidez do Poeta




A Cláudia Gonçalves (Cacau)


Um poeta solitário caminha em devaneio.
Vai como triste no marulhar das gentes a reparar.
Dúbio, em perdidas palavras, agrava o pensar.
Estas não lhe trazem o remanso da brisa do mar a meio.

O que lhe falta? O que lhe sobra? Qual o seu momento?
Algo diz bem no fundo que é o tal enternecimento
Que antecipa a ventura de saber o que virá no vento:
- Desde o sul, o minuano, a lira e o sentimento.

Amalga-se, pois, agora a saudade dos olhos de claro mel
E de angelicais mãos que sequer se deram - e pressentidos
Os beijos de rubilita na aragem do outono, - jamais sentidos.

O poeta sonha a musa de apego assaz tão liquido
E lhe vem ao verso à marina brisa e um violino na distância.
À lassidão da lua, no peito o langor d’alma vem aplacar-lhe a ânsia.

Ricardo Sant'Anna Reis

Evoé!

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Ricardo Sant'Anna Reis 21.9170-9004

Ricardo Sant'Anna Reis  21.9170-9004
"rondava a rosa à poesia pelos jardins das flores tanto mais diversa a rosa quanto mais forem os amores". Sociólogo, poeta e editor, publiquei em antologias e recebi alguns premios literários. Tenho dois livros: "Diario da Imperfeita Natureza" e "Derradeiro Prelúdio" (no prelo). Pretendo aqui interagir com voce sobre poesia ou qualquer outro assunto relevante.

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