domingo, 22 de março de 2009

O AMOR VISTO AOS QUATRO ELEMENTOS

E foi amar o poeta a uma mulher na praia.
A onda que se afirmava no horizonte
vinha vindo vinha vindo a desaguar
na espuma branca a acidez do sal.

Por entre fendas de recônditas rochas
o poeta voyeur siderado observava
as ondas armando o vivo sexo elemental.
As ondas amavam-se ao longe, n’alto-mar

defloradas na premência vã do agora;
e era como se fora a vaga de ontem
por certo a sumula da que seria no amanhã.
Um gozo continuado, interminável de amor

tal qual o de homens e mulheres em furor
que se sugere sempre ao sol restante
mais do que na eternidade, um único instante.
Os seios da mulher já pontuavam belos, bicos

erriçados prontos, sob a penumbra noturnia
e bela da noite; ali já se ofereciam à sombra lunar
sobre a pedra. O poeta pousava o olhar, no remanso
esquecido do quebra-mar, perdido na avidez de Eros.


Havia um desejo proposto que já se ardia na consumação
amorosa de Poseidon e Fedra. E vinha no fluir do vento
o elemento, o pecado capital, a maresia; vinha no aroma
de caju e no cheiro da romã.

Disposta e languida na areia da praia
a mulher pedia à pressurosa brisa, para aliviar-lhe
a secura da canícula e o frisson do corpo; e beijos
vadios que lhe roçassem a pele da nuca.

Almejava o infinitivo do amor total.
Nunca o vértice entre suas pernas, nas coxas
fora mais ardente, na aparência sensual
de um figo maduro e aberto.

Exalava, aguava-se, queria a devoração da língua.
Ah, poeta...que péssimo amante que tu me deras
(ali a mulher dizia deixada à míngua)!
Mas o divagar do poeta resvalava atônito

daquele corpo líquido e quente.
Perdido estava o seu tirocínio
para a observância inconsútil
e inútil da lubricidade do mar.

domingo, 8 de março de 2009

Tributo ao Dia Internacional da Mulher - 8 de março

A Pagú


mulher como musa, para líricos devaneios
insólita e a crua, a mulher linda e a feia
a que sobre pernas, passeia
na avenida, à beira-mar
as desnudas, consumidas
em bancas de jornais
as de beleza intacta, as espinhentas
como mandacaru
mulheres de hoje e as de ontem
Eva Nil, Frida Khallo e Pagú
Deus e o Diabo disputam
a infinita proeza desta criação
a mulher que no olhar se amadura
a que no corpo incendeia
toda e qualquer mulher
é promessa de beleza
é sentimento que desabrocha
semeadura primordial
pitonisa, torre de marfim
Sacre Couer de Marie
ambivalência orgástica
e a mais intensa solidão
não me dirá a psicologia
nem tampouco a vã filosofia
pois acima de toda a ciência
a mulher dos outros
e a mulher minha
reluz a tua anatomia
és de novo e desde sempre
pertinência, poema de todo um povo
vera musa da paixão
Penélope de um tempo novo
mulher, toda promissão.

Eu dou-te uma rosa cândida e pura


A Joaquim Maria Machado de Assis


Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!
O meu amor surpreende-te no ramalhete.
Vejo que em ti, fina flor, a harmonia perdura.
Oh! Rosa frágil, tão esplendido aríete.

Tomai a cidadela, as ermidas do coração
De minha amada, leda e maviosa donzela.
Aquece-a com esta ternura, que é só dela
Inda que não lhe tenha sequer suspeição.

Se não tiver forças, Oh! Flor dadivosa
De torna-la submissa ao meu sentir
Não tema. Fica-me a ventura de partir

Para o limbo eterno do poeta que falha.
Feneço por amor. Levo comigo o preceito:
Perde-se a vida, ganha-se a batalha!

O poente se dedica ao poema

A Ines Motta









O poema claudicante, eu confesso
A não alcançar a vida em seu mister
É incapaz decalque e se faz verso
Não imagina o que não poderia ser.

É só um fraco, tenue arborescer
Se em meio ao vital verde da relva
Fagulha diante de tão vistosa alva
É astro-rei que se priva de nascer.

Iluminura frente ao brilho de cinema
Por fraco luzir o nasciturro se condena
Ao limbo eterno de um quase fenecer

Não fosse o bardo invadir de pronto a cena
Tal qual heroe da Batalha de Alcacer-Kibir
E dedicar o lusco do poente ao tal poema.

sábado, 7 de março de 2009

O Amor e os Contrapontos




os amores são
como contrapontos
os inversos, os signos


trocados
de ausente/presente
que só se resolvem


nos interditos
ou nas permissividades
na contenção
ou na explosão
no vôo, na queda, no tempo.
o tempo de um suspiro


é o tempo da eternidade!
um só amor para contar-se
entre a plausibilidade
patética da cópula


condição prosaica
e farsesca


e a existência insistente
da poesia atemporal.
o amor como uma língua atonal
própria aos amantes.
é preciso que se saiba


que o amor não é


dimensão naturalista
não traz muita coisa de bom
nem algo que o valha


o amor é sofrimento
o amor é magia


é falta de fôlego
é exitação, fogo no rabo


enfisema pulmonar
provocado pelos


suspiros de saudade
e pela espera inquieta


incontida vaidade


de se crer amado
um pico na veia/estrada
que te faz correr moléculas
de uma alegre insânia.

domingo, 1 de março de 2009

Roma oriental


Por ti, princesa, como Aníbal
irei eu seguindo sempre em frente.
Nas campanhas, cruzando em Roma a Via Ápia
com cavalos e elefantes adornados
ou a dar combate pelas estradas de pó
do longínquo oriente...
Por mais difícil a peleja, continuarei eu
seguindo em frente. Derrotarei os Hunos
os Assírios e os Sumérios
guerreiro, o meu coração não fenece
e ressurge propondo impérios.
El Cid campeando em busca da gloria ingente
serei eu, seguindo em frente.
E se ainda houverem conquistas
para um desafio de Hercules
parto como Maximiniano
a espada assinalando o norte rente.
Com espanto e cansado de guerra
bastante louco e já velho
para ainda crer em amor intenso...
Mesmo assim, o jade, o rubi
os panos finos e os ouros
deporei aos teus pés de princesa
aun que sea mui poco.

As uvas (série erótica)

Inebrio tanto
verte-se em taças.


São as uvas
como vulvas;
se dão ao desfrute
por puro prazer.

As uvas são aquosas
como amoras.

São cerejas, como figos

são inteiras aos sentidos.

As uvas se querem
como o sumo
do intenso viver;
a gota tênue
e rosácea,
o gosto do tinto que
te restou nos lábios.

Inebrio (série erótica)




Quero ir direto ao teu ponto
e não vou resistir ao apelo.
Se o que insinuas já me põe tonto
o que dirá te botar nua em pelo?


Ah, esta tesão não se acaba...
Por mais que eu me perca
ou mesmo que me dane
quando me vens de alma safada
despir a lingerie cor champagne
que tanto a mim embriaga.

Evoé!

Saiba que a sua visita e o seu comentario dão sentido a este espaço, que alem de divulgar poemas, quer conversar sobre a vida. Esteja em sua casa.

Ricardo Sant'Anna Reis 21.9170-9004

Ricardo Sant'Anna Reis  21.9170-9004
"rondava a rosa à poesia pelos jardins das flores tanto mais diversa a rosa quanto mais forem os amores". Sociólogo, poeta e editor, publiquei em antologias e recebi alguns premios literários. Tenho dois livros: "Diario da Imperfeita Natureza" e "Derradeiro Prelúdio" (no prelo). Pretendo aqui interagir com voce sobre poesia ou qualquer outro assunto relevante.

Seguidores