E foi amar o poeta a uma mulher na praia.
A onda que se afirmava no horizonte
vinha vindo vinha vindo a desaguar
na espuma branca a acidez do sal.
Por entre fendas de recônditas rochas
o poeta voyeur siderado observava
as ondas armando o vivo sexo elemental.
As ondas amavam-se ao longe, n’alto-mar
defloradas na premência vã do agora;
e era como se fora a vaga de ontem
por certo a sumula da que seria no amanhã.
Um gozo continuado, interminável de amor
tal qual o de homens e mulheres em furor
que se sugere sempre ao sol restante
mais do que na eternidade, um único instante.
Os seios da mulher já pontuavam belos, bicos
erriçados prontos, sob a penumbra noturnia
e bela da noite; ali já se ofereciam à sombra lunar
sobre a pedra. O poeta pousava o olhar, no remanso
esquecido do quebra-mar, perdido na avidez de Eros.
Havia um desejo proposto que já se ardia na consumação
amorosa de Poseidon e Fedra. E vinha no fluir do vento
o elemento, o pecado capital, a maresia; vinha no aroma
de caju e no cheiro da romã.
Disposta e languida na areia da praia
a mulher pedia à pressurosa brisa, para aliviar-lhe
a secura da canícula e o frisson do corpo; e beijos
vadios que lhe roçassem a pele da nuca.
Almejava o infinitivo do amor total.
Nunca o vértice entre suas pernas, nas coxas
fora mais ardente, na aparência sensual
de um figo maduro e aberto.
Exalava, aguava-se, queria a devoração da língua.
Ah, poeta...que péssimo amante que tu me deras
(ali a mulher dizia deixada à míngua)!
Mas o divagar do poeta resvalava atônito
daquele corpo líquido e quente.
Perdido estava o seu tirocínio
para a observância inconsútil
e inútil da lubricidade do mar.
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