Quando consideramos como é vasto e próximo de nós o problema da existência, esta existência ambígua, perturbada, fugidia, semelhante a um sonho – um problema tão grande e tão próximo, que encobre e sobrepõe todos os outros problemas e finalidades logo que tomamos consciência dele – e quando consideramos que todos os homens, com exceção de alguns poucos, não são claramente conscientes desse problema, nem parecem perceber sua existência, mas se preocupam antes com qualquer outro assunto e vivem apenas no dia de hoje sem levar em conta a duração não muito longa de seu futuro pessoal, seja contentando-se em relação a ele com algum sistema de metafísica popular; digo, quando considerarmos tudo isso, podemos chegar à conclusão de que o homem só pode ser chamado de ser pensante num sentido muito amplo. Nesse caso, não nos surpreenderá nenhum gesto de irreflexão ou tolice, pois saberemos que o horizonte intelectual do homem normal pode até ultrapassar o do animal – cuja existência, sem nenhuma consciência do futuro e do passado, é inteiramente presente -, mas não esta tão distante deste quanto se supõe.
Arthur Schopenhauer
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