quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ofício de Viver


a disposição dos espaços
o burburinho buliçoso
das borboletas corais
o engenhoso trabalho do besouro
roendo a lenha aos nacos.

na servidão dos caminhos
acerados pela relva
sorve, o passarinho
para o seu canto matinal
as gotas de orvalho
ficadas da noite.

o filhote gorjeia no ninho
no alto de um pé de pau.
um balido gesto, que seja, um ato
introduzindo nos princípios da tarde
a sinfonia magistral dos insetos
grilos e cigarras, para ser exato.

o céu, corta-lhe
o vôo planador da seriema
olhos de lince
caçando a cobra buraqueira.
no longe, crianças brincando
celebrando a vida inteira.

e o dia, então, se exerce
de um modo pluriforme
sob o impacto da perfeição
daquele único e tênue momento.

não há razão para tragédias
crueldade, anulação de sentimentos
na forma do natural desdobrar
de um destino de ocorrências.

dado fosse ao homem alcançar
a virtude em o seu ofício de viver
fincaria os pés no barro
deixando a vida acontecer.

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Ricardo Sant'Anna Reis 21.9170-9004

Ricardo Sant'Anna Reis  21.9170-9004
"rondava a rosa à poesia pelos jardins das flores tanto mais diversa a rosa quanto mais forem os amores". Sociólogo, poeta e editor, publiquei em antologias e recebi alguns premios literários. Tenho dois livros: "Diario da Imperfeita Natureza" e "Derradeiro Prelúdio" (no prelo). Pretendo aqui interagir com voce sobre poesia ou qualquer outro assunto relevante.

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