terça-feira, 27 de julho de 2010

DRUMMOND NO TEMPO INTIMO

Que nada restou de ti, poeta e do tempo enfunado?
Que tudo? O quê da bem querência?
Teus pares, Dolores,
haveres, teus males da vida e amores.

Os achaques do tempo
perduram no gesto
nas guerras a revisitar
nas alcovas consentidas
na foto na parede, Itabira sacrificada.
No batente da janela corroída
a maresia por remanso.

O que restou do Rio de 40?
Restou a tua mão patética em recolhimento
os óculos ovais que denunciam o cansaço
e o sentimento ruinoso do mundo.

E como saber se não foi sonho  se não foi sanha
a poética refletida no olhar da pomba
verdadeira, perdida no passeio Público?
E se ao toque do bumbo da praça em frente
ao Cinema Olinda, o homem sisudo e tímido, enamorado
da dama antiga, ainda se assombre com o estribilho do bonde.

Suspeito que roubas discreto do Carlitos, a eterna cena.
Repara. Embora falte o sentido que te parecia intimo
e necessário, habita a alma algo da canção amiga
das memoraveis sentenças, dos versos tecidos na sombra.

E é esta alma que já se cogita
ser assim mais do que flama,
- um poema.

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Ricardo Sant'Anna Reis 21.9170-9004

Ricardo Sant'Anna Reis  21.9170-9004
"rondava a rosa à poesia pelos jardins das flores tanto mais diversa a rosa quanto mais forem os amores". Sociólogo, poeta e editor, publiquei em antologias e recebi alguns premios literários. Tenho dois livros: "Diario da Imperfeita Natureza" e "Derradeiro Prelúdio" (no prelo). Pretendo aqui interagir com voce sobre poesia ou qualquer outro assunto relevante.

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