domingo, 15 de novembro de 2009

NO BRUAR DAS AGUAS FRIAS

no rumorejar dum tempo ido
pola loca de água fria
água bruta que opera e brota
em silencio e no tempo
de um metrônomo marcando
o compasso do viver perdido.

cobrejando em curvas a água ia
fazer-se em caudal de ribeirão
uma vereda cuja rota cruzava a vila.
e na vila nada se via, fiada
no oficio das orações, perdia-se.
e se perdia também no olor
da aguardente, pola serra de Bryon
e no entorno, pola bruma, perdia-se
entre seres das brenhas, os abellons
e a brisa passando, a tarde a bruar
por tras-os-montes, passando,
a passar e já é um rio
que daqui vai renascer no mar alem.

desde a igreja, inda o cantochão
non dava noticia do rio que passando
dista-se no arrulhar.
as aguas fervilhando nas pedras
é o que agora se escutava, alem
de ecos habeis e perenes.

o vital mecanismo das pontes
que atravessam o ceu
e levam polo ar o trem voador.
há pontes do engenho humano
trançadas em aceiros,
a suplantar abismos e desterros.

embaixo das pontes
arrulha um som apurado
que é mais que o azar
dispondo as notas tonais.
é o som das aguas frias
de grave e profunda beleza
tão leve como nunca se obteve
na mais formosa das sinfonias
e a terra na distancia
como estendido comentario
de pedra e de pó era medida no mugir
de um garrote abandonado
que à nai clama na capoeira perdida.
o muar sabe que inda opera e brota
em silencio
a agua e o relogio do tempo
em seu compasso desdobrado
polo sol e polo esterco, pola
brisa do Terral, saneando homens,
gado, levando desejos...

penso na Rosa e em Pondal
fundantes de minha alma varia
e ventura e tudo se esvai num minuto
em repentino e fugaz momento
na ausência lusa que me retorna
como o lampejo primal
de uma fratria imortal e oclusa.

Artur de Bastavales, Vigo, GALIZA, 2009.nov.

Nenhum comentário:

Evoé!

Saiba que a sua visita e o seu comentario dão sentido a este espaço, que alem de divulgar poemas, quer conversar sobre a vida. Esteja em sua casa.

Ricardo Sant'Anna Reis 21.9170-9004

Ricardo Sant'Anna Reis  21.9170-9004
"rondava a rosa à poesia pelos jardins das flores tanto mais diversa a rosa quanto mais forem os amores". Sociólogo, poeta e editor, publiquei em antologias e recebi alguns premios literários. Tenho dois livros: "Diario da Imperfeita Natureza" e "Derradeiro Prelúdio" (no prelo). Pretendo aqui interagir com voce sobre poesia ou qualquer outro assunto relevante.

Seguidores