domingo, 19 de setembro de 2010

PRECE I

A Carmem Moreno

Ah, Deus, ensinai-me
que plano é este de onde se vem
para onde se vai...
Este ir e vir, opróbrio fremente
em que o coração se perde
se arrisca, faz e refaz...
Que músculo é este, Deus
que não sossega
de sentir demais, e cedo
e que sente até mesmo a dor
tácita e ausente?
Ah, Deus, ensinai-me
a viver e a ser mais
do que o meu próprio medo!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

PUMA NO SALTO

Frios como esquadros laminados de um parapeito.
incapazes para algo, mal-formados sobejos.
Se formigas vão no chão fazendo fila
em formação, à mente, se vão os desejos.

Nos meus sonhos diários de absolvição
um gato preto salta e pula, recorrente.
Vira-se de puma, enlutado, em desespero
em uma cabriola filosófica e obsoleta.

Como são frias as tintas na paleta
se são ardentes nas cores
de Van Gohg
quando retratam um campo
de girassóis ensolarados?

TORNASSOL

O amor como o ondular
da procura ausente.
O tornassol que em teu rosto
tornou-se, fixado
num olhar terno, alvo.
Ah, amor que se afogou
em volumosa confiança
desencarnada de sangue
e de eflúvios.
Ah, amor inventado
que revive eternamente
em sua dor.
Um vento impreciso, um relance
e o rosto já se volta a ilusão
e o horizonte já se espraia na mente
em langues águas
como indômita alma.
Ou não, calma. Nada.
Só um sonho estrondoso
na chegada ao portal do Hades
onde só encontrarás, em silêncio
o vetusto senhor do tridente.

domingo, 5 de setembro de 2010

A PANTERA

Rainer Maria Rilke

Seu olhar, de tanto percorrer as grades,
está fatigado, já nada retém.
É como se existisse uma infinidade
de grades e mundo nenhum mais além.

O seu passo elástico e macio, dentro
do círculo menor, a cada volta urde
como que uma dança de força: no centro
delas, uma vontade maior se aturde.

Certas vezes, a cortina das pupilas
ergue-se em silêncio. – Uma imagem então
penetra, a calma dos membros tensos trilha –
e se apaga quando chega ao coração.

Evoé!

Saiba que a sua visita e o seu comentario dão sentido a este espaço, que alem de divulgar poemas, quer conversar sobre a vida. Esteja em sua casa.

Ricardo Sant'Anna Reis 21.9170-9004

Ricardo Sant'Anna Reis  21.9170-9004
"rondava a rosa à poesia pelos jardins das flores tanto mais diversa a rosa quanto mais forem os amores". Sociólogo, poeta e editor, publiquei em antologias e recebi alguns premios literários. Tenho dois livros: "Diario da Imperfeita Natureza" e "Derradeiro Prelúdio" (no prelo). Pretendo aqui interagir com voce sobre poesia ou qualquer outro assunto relevante.

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