domingo, 8 de fevereiro de 2009

A CONSTRUÇÃO DO LAGO ETÉREO


Em um dia pretérito eu me pus a edificar um lago
E abandonei-me de pronto em tal projeto.
Eram terras de andarilho a beira do chão.
Reflui quando entre os meus
Não encontrei o eco.
Eis-me aqui, em outras andanças
Reincidente e tonto.
Eis-me ao local que de antanho escolhi para o lago.
Cá estou, acocorado à fronde generosa
E altaneira de um coqueiro
De inominada espécie, ombreado por uma altíssima
(nem tanto) bananeira. E digo: - Percebo que ainda te faltam
Arvores ao derredor, ornato sine qua lago não será.
Que se inicie-te com arvores especiais
Coníferas belas, palmae, cítricas
E outras que te prendam as barranqueiras
E honrem-te nas floradas e nas frutas aquosas.
Como a Emilia de Lobato, listo
Necessidades tais, severíssimo arquiteto
Num caderno de anotar reformas.
Circundam-me e assistem a meus gestos
Doutos e interessados em assuntos naturais
Uma miríade de insetos.
Como a ajudar meu esboço, dizem-me os coleópteros
De aumentar o previsto espelho d’água
Para a perfeição de seus planos de vôo.
Para as lepidópteras, basta o frescor das águas
Na floração da primavera.
Os grandes mamíferos, já estes querem, sem ânsia
As tuas sugestões líricas plácidas
Para conjecturas e ruminação sem fim.
Das franjas da capoeira um cavalo
Relincha a concordância.
Até mesmo a lua, ser mulher e mítica
Virá luminosa para mirar-se
Em tua planura noturnal.
A lua espera-te, incorrigível e vaidosa.
Os pássaros, Ah! Os pássaros!
Estes já te visitam quando ainda és
Um charco, com tão efusiva alegria
Que parecem antevisar
O teu glorioso destino de lago.
Sim, glorioso, pois inda que modesto
Não invejarás as léguas do Titicaca.
Sim, glorioso, posto que infinito
Já que habitas minhas memórias de afeto
Concretizadas para alem de amores baldados
Como o puro alento, desde as primas
Horas tristes dos novos dias.
Serão dias em que de tudo
Se vai experimentar
Mas só será concreta a poesia
E não vai te permitir a mentira.
Continuarei pela vida a me exprimir
E anotar reformas
Ao imperfeito plano de Deus
Sob o signo da loucura
Na plenitude do sentir.

Nenhum comentário:

Evoé!

Saiba que a sua visita e o seu comentario dão sentido a este espaço, que alem de divulgar poemas, quer conversar sobre a vida. Esteja em sua casa.

Ricardo Sant'Anna Reis 21.9170-9004

Ricardo Sant'Anna Reis  21.9170-9004
"rondava a rosa à poesia pelos jardins das flores tanto mais diversa a rosa quanto mais forem os amores". Sociólogo, poeta e editor, publiquei em antologias e recebi alguns premios literários. Tenho dois livros: "Diario da Imperfeita Natureza" e "Derradeiro Prelúdio" (no prelo). Pretendo aqui interagir com voce sobre poesia ou qualquer outro assunto relevante.

Seguidores