quarta-feira, 27 de maio de 2009

Actas para palavras proibidas

poeta sou como o rapace de palavras e as roubo assaz quando as pego cruzando pélagos em asas lépidas de melra levando ao bico as mensagens de salvação da alma e quando não são as melras são as enguias com sua escorrencia original espargimentos elétricos e ciclonicos da nivia linfa imponderável e das linhagens universais quero as palavras de essência esquecidas nos léxicos palavras que façam sentido ou não mas que eu as pilhe enquanto permeie prados viçosos e lavras e nas covas as letras mortas por mãos diáfanas plantadas no chão mesmo no assombro serão as tais palavras como plasmas fertilizantes como placentas confeccionarias de elegância sutil vibrátil e circunflexa os meus poemas são velhos como eu mesmo sou velho no mirar eu surpreendo (as palavras velhas) sobrevivendo nas sombras da caridade alheia e ao abrigo das emoções nos dizeres do povo ou enquanto palavras múmias estrambóticas sem carne sem rosto de sagas antigas como a porosidade de ossos de argonauta eu as uso no assento e na pausa reconhecível de meus versos caducos ah, Marinetti e esta velocidade progressista que me atropela se me cortam as palavras fazem-me impassível eunuco ah, esta cidade-limite em flor os meus versos, como foi dito pelos que supostos lhes sabem não são poética excedidos e anacrônicos que são desconexos de um tempo presente ainda roubo palavras de uns poetas barrocos d’alemar que as tem por perto mas que a vaidade não se lhes permitem que se dêem conta de que o poema é sempre maior do que o poeta só me pugno por um tempo que me seja válido que não permaneça estático que só se o pressentissem na evanescencia d’alma ou em um murmúrio infiel de esquálido e expurgado afeto ah, as palavras como as desejo! sobrevoam benditas ou malditas como pássaros soluços na solidão da noite ao balouçar de um tisnado pessegueiro de jardim palavras internas na brisa da madrugada ah, ai de mim, minha fada! como se me faz triste saber tantas formas abandonadas no lixo da história como flores que são murchas restos de palavras nunca ditas que jamais se exercerão renovadas

Ricardo S. Reis & Claudia Gonçalves

Um comentário:

LirÓ CarneirO disse...

PERFEITO DEMAIS !

PARABÉNS ! aos dois !!!
assim até me inspiro...rs

Evoé!

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Ricardo Sant'Anna Reis 21.9170-9004

Ricardo Sant'Anna Reis  21.9170-9004
"rondava a rosa à poesia pelos jardins das flores tanto mais diversa a rosa quanto mais forem os amores". Sociólogo, poeta e editor, publiquei em antologias e recebi alguns premios literários. Tenho dois livros: "Diario da Imperfeita Natureza" e "Derradeiro Prelúdio" (no prelo). Pretendo aqui interagir com voce sobre poesia ou qualquer outro assunto relevante.

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