terça-feira, 13 de outubro de 2009
PARA O FLÂNEUR MARIO QUINTANA
Ah, doce poeta morto dos becos de Porto.
Está na cidade o que de ti nos resta
como reminiscência desta da urgência.
A cidade por teus passos mapeada
num existir onírico, sem pressa.
São mesmo de ti os pampeiros laços
de uma urbe sonhada, onde a vida segue
nos recortes medianeiros
e no espanto surpreendente das esquinas.
Ah, doce poeta morto dos becos de Porto.
Hoje, passando pelo Hotel Magestic
cruzei as vitrinas do saguão principal.
Os corredores do hotel são labirintos borgianos
incorporados em uma fábula de triste abdicação.
Adentrei surdamente em teu quarto
com meu olhar invasor.
Vi teu fato de dandi chique;
vi,por fazer, a tua cama de velho, abandonada.
Vi palavras, versos, poemas, cigarros
e jornais pelos cantos, notícias vãs congeladas
em um velho televisor preto e branco.
E além?
Freqüentei o teu bar, o teu café
conspurquei o teu encanto.
Que mais?
Palmilhei depois, pé a pé
a cidade que te anuncia
nesta tarde azulada e fria.
E a cidade se ia recomposta nos fonemas
martelados por sapos livres
na praça dos passarinhos
ali, bem perto do Mercado Público
onde os que atravancaram
a poesia e o caminho, por ti não passarão.
Ah, doce poeta morto dos becos de Porto.
Ah, doce fluir do Guaíba
Mar Particular, mais do que lago.
Desde este solário em que eu te vejo a flanar
poeta Quintana, nos triste ventos azuis
de Porto Alegre...
Ventos que me fazem fremer
os ossos e a alma leve pelo Bric da Redenção.
De noite, em uma poesia de essência urbana
vou descrever-te na solitude do poema
ardendo pelas estrelas na dor que emana
da intesidade da paixão e da febre.
out 2009
(passando por POA a caminho
de Bento Gonçalves)
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3 comentários:
Lindo e visívelmente claro!
Que coisa mais plena e bela!
Que rico vocabulário!
Parabéns!
POETAR é isso!
Menos que isso, é pretender.
(encaminhado por Email)
Bom dia Ricardo
Este é um
lindo poema, parabéns vou encaminhar para a responsável pelo Acervo Mario Quintana.
Tamara
Direção CCMQ
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