A Raimundo Correia
Eis que a alva pomba ia-se avoada
no ruído e no terror ia perdida.
E eu a observava e via condenada
assim tomada, de não prever saída.
Quanto mais em asas a ave debatia
mais se afundava no súbito negror.
Aturdida, no ar recluso do metrô
desembalada, fugia de bólidos
comboios, que nem em sonhos antes vira.
Eram trovões imensos, multidões
e nunca mais
um parapeito de prédio alto
ou o grato milho.
Nunca mais nenhum sonir de lira
no toque suave da manhã no arvoredo
a exausta pomba iria inspirar.
O mínimo cuore que no peito lhe palpita
esta pronto para espocar de tanto medo.
Antevê, a bisonha ave urbana em delírio:
- o corpo aéreo, em plumas mais leves
que o ar, caído, morto, sem remédio...
Sem paradeiro, em renovado pavor
estala as asas numa fuga aflitiva
e ainda mais num afã mal sentido
até que se abranda, a pomba
por conformada a ter-lhe chegado
assim, a termo, a vida.
Ah, esta pomba suja e feia!
Pobre e esbaforida ave irmã!
Tu que foste musa do poeta Correia
e que já empunhastes, do Espírito Santo
o frio cetro, vestistes o manto...
Tu que já voastes em excelência
sobre pomares de maçãs
agora cruzas o meu caminho
nestas abóbadas celestes artificiais
(não os céus) de ruídos e túneis
absolutos e sombrios...
Pois é justo neste ar metálico
que teus assombros finos
se confirmam, e que de resto
te faltará a existência.
Já o sentes! O bico fendido
os olhos saltados, vermelhos
no ultimo arrepio...
E a pomba verdadeira
entre dormentes, carcaça caída
no trilho do metrô
morre triste sem mesmo nunca
ter encontrado a saída.
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