sábado, 11 de julho de 2009

Poema resposta ao poema de Fabiano Silva, a mim dedicado

A FOME DA POESIA
A Fabiano Silva

A fome da poesia
é uma fome árida
fome de areia cabralina.

É mais do que uma fome inteira;
é uma fome que é fome
e meia

seja no pino do meio-dia
ou no orvalho da lua cheia.

E esta areia é tão plena e disforme
quisplody’aguazuldeamaralina
entranha na pele do homem
mais do que
em sua alma insone.

A poesia, como esta mítica areia
vem que vem voando no vento
vem como fina maresia

e assenta na face
seca
do pescador/poeta.

Se esta aridez não lhe mata a fome
agudiza, e este
já não pode viver sem ela.

Ah! Meu caro amigo
que segue nesta sede
sem o vinho da existência
a findar.

Se a poesia é uma fome daquelas
de não saciar
comamos o que nos resta
no alguidar.

Do poeta Fabiano Silva, de Belem do Pará PA, dedicado a mim...


Meu amigo da fome,
meu compadre poeta,
comemos sem fastio
nossa farinha adversa.

A farinha da poesia –
farinha feita de terra –
que polvilha todas as coisas
com seu corpo de areia.

Forçamos seu adoçar,
farinha grossa e azeda,
mas não adocicando ao ponto
das formigas quererem-na,

adocicando-a apenas
para esconder a aspereza
sem deixar se perder
seu caráter de areia.

A farinha da poesia
comemos sem pressa,
mas temos fome de glutões,
fome que não cessa;

comemos sem pressa
e sem pressa terminamo-la,
do alguidar ou panela
em que ela se encontra;

comemos diariamente
e sempre a resposta inversa:
ao invés de saciarmo-nos
temos mais fome dela.

Diariamente comemos
e todo dia sempre a mesma
fome, fome que ultrapassa
à fome da matéria.

É uma fome mais que fome,
fome calcária, de pedra,
criando dentro do abdômen
pedregulhos e estelas,

é uma fome mais que fome,
absurda e concreta,
é uma vontade de comer
e ser comido por ela.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

RITORNELO



Para um quarteto, de cordas e mais flauta
Que de transversa vai à pura sono ridade
Num apuro de acordes, facho de luz, feixe de prata.

Na toccata, instrumentos elidam tons em semibreve.
Das cordas retesadas, ao vivace se projetam
Notas tais, que deixam a alma em Alevare.

Sustenida à rítmica em um contrabaixo repique
Chora vai no lamento, a viola enluarada.
Ao violão, castiço, se devota apaixonada.

Eis que me entrego à doce perdiçon, mi longa a vida
Que assola ou reconduz em calma inteira
Ao ritornelo de uma música de essência e de falta

Como um nuevo tango atonal de Piazzola
Uma dor nova em versão bela e decidida
Para um quarteto, de cordas e mais flauta.

Ricardo Reis, julho de 2009

quarta-feira, 8 de julho de 2009

POÉTICA DA DOR DE AMOR


A dor, como se me assalta,
Ao cabo de toda sorte,
Renova-se, plena, excruciante,
Criadora cabal do meu sentido sobrante.

O amor, ah o amor no meu peito residente
Como esta dor toda fundante...

Inda quando tão casto se esvai,
Ao abandono do ser, ao olvido,
Ao infeliz desterro no âmago

Limbo desprovido que se me torna.

Evoé!

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Ricardo Sant'Anna Reis 21.9170-9004

Ricardo Sant'Anna Reis  21.9170-9004
"rondava a rosa à poesia pelos jardins das flores tanto mais diversa a rosa quanto mais forem os amores". Sociólogo, poeta e editor, publiquei em antologias e recebi alguns premios literários. Tenho dois livros: "Diario da Imperfeita Natureza" e "Derradeiro Prelúdio" (no prelo). Pretendo aqui interagir com voce sobre poesia ou qualquer outro assunto relevante.

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