te rasgo a anágua
para ver-te aguar
mina preciosa
onipotente como Ares no céu.
Deus capital na bucólica tarde.
buenos te serão
los aires
e tu, pássaro puro apego
no peito que ainda arde.
seja ou então pare
emparelhe o teu corpo
e chegue
perto, perto
e nunca mais repare
no meu jeito assim incerto.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
domingo, 27 de setembro de 2009
Apresentação do livro DIARIO DA IMPERFEITA NATUREZA por JORGE SALOMÃO
A arte surpreende sempre. Ezra Pound diz que: “A poesia difere da prosa pelas cores concretas de sua dicção”. Diário da Imperfeita Natureza, do poeta Ricardo Sant´Anna Reis. Já no título você é tomado por um impacto de beleza estilística. Seguindo e passeando pelo corpo do livro, vamos encontrar pontos de luzes que nos questionam e nos adicionam. “De repente, tudo se dá aos tropeços, sem ciência. O fim das coisas, igual ao começo”. Um poeta de múltiplas vozes, tons e sons. “devorar, num ritual antropofágico, minhas referencias”. Seguindo página a página, o livro vai indo e te tomando, num misto de elaboração, sabedoria e domínio da escrita. O poeta dança solto e dá show de construção no ofício do fazer. Fique atento e siga a trilha: Ricardo Sant´Anna Reis chegou para afirmar que poesia é coisa fina. E é: Demanda ao Mestre Pessoa, Uma Clara Tessitura, Gazal de Aprendiz, O Corsário, Poema para Walt Whitman, etc. O poeta, seus amores, suas interrogações e seus caminhos. Colhendo no ar a viva tradição, Diário da Imperfeita Natureza traz em seu bojo a marca de civilizações várias. É a afirmação de nova e contundente voz na poesia deste Brasil de dimensões continentais.
Luz, luz, luz!
Rio, agosto de 2007
Jorge Salomão
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
MENINA DE TRANÇAS
I
A menina de tranças
armava um jogo de pedras
bulitas multicoloridas
lajedo do rio, de pedra
arenoso, lavra
cada pedra escolhida
uma palavra separava.
Depois, outra medida
a palavra sentida ela amava.
Era num horizonte perdido;
e havia uma pedra de mar
que se revolvia nas ondas;
e uma pedra chamada anel
que em conchas anelava-se;
e se era azul a cor do céu
dizia a menina, lápis-lazúli
era a pedra de azular.
Se patos no alto apontavam
a menina batizava
a pedra.
Pensava em revoada, fluía
disparava na imaginação
se deixava, costumeira.
Como um trigueiro navio
ela tecia tramas de bilro
à sombra da palmeira
tecia um vestido de névoa
alinhavado com brilhos de rio.
II.
A menina de tranças sonhava.
Queria de alguém bem bonito
Ser a primeira namorada.
Esperando o amor, acontecia
De dançar alegre e em tal fulgor
Ao poente, no fim do dia
Que o próprio sol admirado
A mirava enquanto anoitecia.
Dançava sozinha e tão plena
Que dançando trançava aprendia
O seu lírico destinar de menina
Lírica, derramada em poesia.
AMOR NATURAL
quero um amor
comum
que só me encante
nunca me inquiete
não me conte as horas
nem conte
meus silêncios mudos
quero um amor
teatro minimalista
onde cada gesto
nada signifique
alem
dele próprio
quero um amor
natural
leve e profundo
no banco da praça
de mãos dadas
não quero
mais nada
só um simples amor
para mudar
o mundo
comum
que só me encante
nunca me inquiete
não me conte as horas
nem conte
meus silêncios mudos
quero um amor
teatro minimalista
onde cada gesto
nada signifique
alem
dele próprio
quero um amor
natural
leve e profundo
no banco da praça
de mãos dadas
não quero
mais nada
só um simples amor
para mudar
o mundo
MEDOPÉIA
I
Natural é que homens queiram
Desviar o curso dos rios
No momento
De seus valores preservar.
Mas não se pode
Pelo novo deixar-se intimidar.
Inda mais quando se sabe
Que andam juntos
A critica e o conhecimento.
As vezes algo nos refreia.
O que é, não sabemos dizer
Neste tempo que receia
Em que estamos a viver.
Vemos que tudo se paralisa
E ficamos em tímidos passos
Sem viver a vida em cores
Sem buscar grandes amores
E o trinado alegre dos pássaros.
Ter medo é viver sem poesia
Sem convicções e ardores.
Faz perder a liberdade
E deforma as emoções.
Este medo não instrui, domina.
De aprender o que a vida ensina
Faz perder a oportunidade.
.....................................................
II
Aldeante tribal em vão transita
N’atmosphera de estultícias
Em despejamentos soerguidos
Continuum ir de uma alma aflita.
Já Rimbaud não erra por quereres
Na flama que lhe queima no inferno
A claridade exposta ao som de um sino
Vogais latentes, palavras vãs cheias de erres.
Ah, solidão errante em trilhas de hemisfério
Como inventada em Alighieri por Dante
Denunciando a derrocada do Deus do mistério
No coração condenado ao destino mutante.
O calor tremendo descarna os ossos
E deixa-os cintilar por sobre a terra.
...................................
III
O vaticínio completa o castigo apressa
Faz-se rumor sob as armas inimigas
Obriga-o a ser caminhante e Guesa
A ser o condor de idéias tão antigas.
Já o disse Borges que afora as estrelas
Não há outros seres vivos nos céus.
Só flexíveis e helicoidais harpias.
Não há espectros nem lugar para Deus.
Que saberei eu do rei das trapaças
Mais que sei dos tatus as carapaças
Mais do que assombram os sacis à criança
Ou sei do velho de barba hirsuta e branca.
Soam as melopéias infernais
A infundir o medo, nada mais.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
MODO DE PRODUÇÃO
arte como arte
mundo lento
em boa parte
viz-a-viz
a poesia e o vento
estetas partem
do todo
aparte
os amantes
passeiam
no parque
o curdo
homem-bomba
é surdo
à razão
e arromba
indústria
artesania
vai-se a monotonia
(que deus nos ajude)
em meio
a tantas mudanças
com a menor parte
que nunca
fique o artista
pois que é
o burocrata
da cultura
aquele que
parte e reparte
mas que nunca
nunca mesmo
irá alem de vir à ser
critico de arte
mundo lento
em boa parte
viz-a-viz
a poesia e o vento
estetas partem
do todo
aparte
os amantes
passeiam
no parque
o curdo
homem-bomba
é surdo
à razão
e arromba
indústria
artesania
vai-se a monotonia
(que deus nos ajude)
em meio
a tantas mudanças
com a menor parte
que nunca
fique o artista
pois que é
o burocrata
da cultura
aquele que
parte e reparte
mas que nunca
nunca mesmo
irá alem de vir à ser
critico de arte
ARREPENDIMENTO
não te quis quando viestes
e não te prometi o Everest
nem mesmo devolvi-te amor
que era mesmo assim tão
pleno de alegria.
tive, do Amar, o medo
e daquilo que sentiria
se a ti me fosse entregar.
tive medo daquele amor
que me tomava por dentro
naquele exato momento
em que te via a flanar.
hoje em dia é tua lacuna
que mais do que impede-me
a leveza; melhor teria sido
ter-lhe dito de pronto
que sem você, invadir-me-ia
o desespero e, como
num fado ateu, a tristeza
iria tomar-me então por inteiro.
e não te prometi o Everest
nem mesmo devolvi-te amor
que era mesmo assim tão
pleno de alegria.
tive, do Amar, o medo
e daquilo que sentiria
se a ti me fosse entregar.
tive medo daquele amor
que me tomava por dentro
naquele exato momento
em que te via a flanar.
hoje em dia é tua lacuna
que mais do que impede-me
a leveza; melhor teria sido
ter-lhe dito de pronto
que sem você, invadir-me-ia
o desespero e, como
num fado ateu, a tristeza
iria tomar-me então por inteiro.
Para que chorar?
Nada há a festejar nestes tempos
senão o sorriso ainda possível
a qualquer criança.
Neste preciso momento
nenhum vento há turvando o mar.
Provar de uma canjiquinha
com jabá e pimentinha
da indefectível cachaça;
e após, deitar-se numa esteira
no chão da casa materna para descansar.
Nesta hora lhe vem
a vontade intima de chorar.
Mas para que chorar, se para
o prazer e para o amor
sempre um coração sozinho
num relance d’olhos
se pode vir à encontrar?
senão o sorriso ainda possível
a qualquer criança.
Neste preciso momento
nenhum vento há turvando o mar.
Provar de uma canjiquinha
com jabá e pimentinha
da indefectível cachaça;
e após, deitar-se numa esteira
no chão da casa materna para descansar.
Nesta hora lhe vem
a vontade intima de chorar.
Mas para que chorar, se para
o prazer e para o amor
sempre um coração sozinho
num relance d’olhos
se pode vir à encontrar?
MATIZES
a Charles Baudelaire
Estar contigo na embriaguez da hora
E no frescor da chuva na tarde.
Recordar de um tempo castiço
No negrume da madrugada alta.
Procurar pelo poema da aurora
No começo da manhã.
O dia azulando seus matizes
No buliçoso viço do ir-e-vir
No aroma doce da maçã.
Ah, fazer-te em tema de verso
Viver da parca felicidade
Concentrado, não disperso
Ao invadir tua cidade.
E por fim, voar como o flanar
Que aprecio, das meretrizes
Que são mais dignas que juízes.
Estar contigo na embriaguez da hora
E no frescor da chuva na tarde.
Recordar de um tempo castiço
No negrume da madrugada alta.
Procurar pelo poema da aurora
No começo da manhã.
O dia azulando seus matizes
No buliçoso viço do ir-e-vir
No aroma doce da maçã.
Ah, fazer-te em tema de verso
Viver da parca felicidade
Concentrado, não disperso
Ao invadir tua cidade.
E por fim, voar como o flanar
Que aprecio, das meretrizes
Que são mais dignas que juízes.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
CARTA DA GALIZA AO BRASIL
Meu bem-querido irmão:
Antes de mais permite-me que me apresente, há tantas cousas erradas que te tem contado de mim, e eu quero, necessito mesmo, que tu me conheças como eu sou. O meu nome é Galiza, ocupo o Noroeste da península Ibérica, sou geograficamente, culturalmente e linguisticamente irmã de Portugal, que fica ao meu Sul, do outro lado do rio Minho; uma pequeninha parte de mim permaneceu sempre independente de qualquer estado até meados do século XIX, mas hoje sou um território totalmente dominado polo Estado Espanhol... Eu sou uma velha pátria que esqueceu já a sua idade; mas o que nunca vou esquecer, mesmo que ao mundo lhe custe perceber, é que em mim nasceu e se criou a nossa língua; esta que tu e eu falamos e que por vicissitudes da história se conhece internacionalmente apenas como ‘português’ mas que nós aqui também chamamos ‘galego’. Mas deixa-me continuar a te contar...
Permite-me que te fale um bocadinho da minha longa história. Eu sou a velha terra chamada ‘Calaica’ Terra onde, como já te disse, nasceu e se criou esta nossa formosa língua; um dia eu fui grande... naqueles tempos foram os meus filhos os que emigrados povoaram a Bretanha, o Centro dos Alpes, e as ilhas Britânicas, consolidando durante milênios a laborada cultura Atlântica. Vai ser muito difícil para mim em poucas palavras resumir-te tantos azares, tantas batalhas, tantas façanhas e também tanta dor e tanto sangue derramado.
Muitos foram os povos que quiseram governar-me, pola cobiça do Ouro, pola riqueza mineira que guardava a minha entranha; chegaram legados de Roma ávidos de conquista e saque, para abrir seu domínio, atravessando do Douro as margens, mas antes tiveram que ceifar 50.000 almas indomáveis, que a peito nu combatiam, porque cobrir o peito era para eles ação de cobardes. Do Latim trazido com as suas outras falas, misturou-se através dos séculos nossa céltica linguagem, para que abrolhasse na Idade Media a língua que agora, meu irmão em espírito, embeleces arrolando-a, com o amor e a exuberância das florestas incontornáveis. Essa língua mesma nascida para amar e ser cantada criou uma das maiores culturas da Europa Medieval, polo caminho de Sant Iago difundida e admirada. Mas tarde, nas lutas dos reinos Ibéricos polo controlo da Hispânia, fui vencida e humilhada polos reis Católicos de Castela e seus ferozes aliados, para pronto, sem dar-me fôlego, à escuridão ser condenada. Atrás ficara o 1º Reino da Europa a liberar-se do Império romano, no século V, polo embate dos aguerridos suevos. Atrás ficaram as lutas entre Afonso Henriques, 1 º rei português, meu filho do Porto Calem, e seu primo Afonso VII, imperador de toda a Gallaecia.
Minhas glórias foram vendidas pola arrogância e a astúcia dos homens, pola traição dos insensatos; meu nome da historia foi apagado. Mas o espírito só adormeceu, e centos de anos mais tarde, as vozes de Rosalia, Pondal, Curros Enriquez e muitos outros, alguns mártires em Carral, ergueram de novo esta chama que agora te entrego irmão na confiança, sabendo que farás bom uso dela, e elevarás no continente americano, como na África e Oceania, onde outros irmãos nos aclamam, a voz lírica deste novo mundo, lusofonia chamado, para que nunca mais a vida nascida das minhas entranhas seja por outros desprezada.
Eis a minha história, irmão Brasil, ainda hoje continuam meus filhos, contra a ignorância lutando, pola dignidade deste recanto que foi berço da cultura que hoje tu com orgulho ao mundo amostras sem arrogância. Continuarão ainda cá tempos difíceis que pronto iremos superando com ajuda dos nossos irmãos que conhecem a nossa palavra, por que a palavra hoje é carne e mora vestida de raças, para os povos unir na nobreza da que foi criada.
Como vês, querido irmão, a minha luta tem sido longa e sem tréguas, tenho de admitir que vou velha e por vezes me sinto cansada... Acho alívio em saber que tu herdaste a minha fala e que em ti nunca se apagará a minha chama; não é que eu recuse a luta, mas tenho que ser realista... o destino da nossa língua, língua em que eternamente viajará a minha alma, aqui na pátria mãe, ainda é incerto.
Há um ano um grupo de intelectuais e artistas, professores, escritores, e defensores da nossa cultura, criaram a Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP). A ajuda da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Letras foi notável e imprescindível. A AGLP, a que sinto como a minha filha mais nova, tentará abrir os caminhos que rompam o cerco que nos sítia e nos abafa; do seu êxito depende em grande medida o meu futuro, é por isso que te peço a acolhas com agarimo e a ajudes no que puderes em nome da nossa eterna irmandade.
A nossa língua atravessa uma das suas piores etapas de todos os tempos na terra berço, a terra mãe que com tanto amor a viu nascer, e a seus filhos e filhas de todo o mundo envia hoje a sua voz... Voz que vai na procura de ajuda que tanto necessito, ajuda que restaure a minha dignidade, peço não continuar a ser ignorada. Por isso te falo, querido irmão, por isso te falo...
Recebe de mim a palavra que mais estimes, meu amado irmão Brasil
Assinado: A Galiza
(da Autoria do Clube dos Poetas Vivos: Artur A. Novelhe, Belém de Andrade, José Manuel Barbosa, e Concha Rousia)
Antes de mais permite-me que me apresente, há tantas cousas erradas que te tem contado de mim, e eu quero, necessito mesmo, que tu me conheças como eu sou. O meu nome é Galiza, ocupo o Noroeste da península Ibérica, sou geograficamente, culturalmente e linguisticamente irmã de Portugal, que fica ao meu Sul, do outro lado do rio Minho; uma pequeninha parte de mim permaneceu sempre independente de qualquer estado até meados do século XIX, mas hoje sou um território totalmente dominado polo Estado Espanhol... Eu sou uma velha pátria que esqueceu já a sua idade; mas o que nunca vou esquecer, mesmo que ao mundo lhe custe perceber, é que em mim nasceu e se criou a nossa língua; esta que tu e eu falamos e que por vicissitudes da história se conhece internacionalmente apenas como ‘português’ mas que nós aqui também chamamos ‘galego’. Mas deixa-me continuar a te contar...
Permite-me que te fale um bocadinho da minha longa história. Eu sou a velha terra chamada ‘Calaica’ Terra onde, como já te disse, nasceu e se criou esta nossa formosa língua; um dia eu fui grande... naqueles tempos foram os meus filhos os que emigrados povoaram a Bretanha, o Centro dos Alpes, e as ilhas Britânicas, consolidando durante milênios a laborada cultura Atlântica. Vai ser muito difícil para mim em poucas palavras resumir-te tantos azares, tantas batalhas, tantas façanhas e também tanta dor e tanto sangue derramado.
Muitos foram os povos que quiseram governar-me, pola cobiça do Ouro, pola riqueza mineira que guardava a minha entranha; chegaram legados de Roma ávidos de conquista e saque, para abrir seu domínio, atravessando do Douro as margens, mas antes tiveram que ceifar 50.000 almas indomáveis, que a peito nu combatiam, porque cobrir o peito era para eles ação de cobardes. Do Latim trazido com as suas outras falas, misturou-se através dos séculos nossa céltica linguagem, para que abrolhasse na Idade Media a língua que agora, meu irmão em espírito, embeleces arrolando-a, com o amor e a exuberância das florestas incontornáveis. Essa língua mesma nascida para amar e ser cantada criou uma das maiores culturas da Europa Medieval, polo caminho de Sant Iago difundida e admirada. Mas tarde, nas lutas dos reinos Ibéricos polo controlo da Hispânia, fui vencida e humilhada polos reis Católicos de Castela e seus ferozes aliados, para pronto, sem dar-me fôlego, à escuridão ser condenada. Atrás ficara o 1º Reino da Europa a liberar-se do Império romano, no século V, polo embate dos aguerridos suevos. Atrás ficaram as lutas entre Afonso Henriques, 1 º rei português, meu filho do Porto Calem, e seu primo Afonso VII, imperador de toda a Gallaecia.
Minhas glórias foram vendidas pola arrogância e a astúcia dos homens, pola traição dos insensatos; meu nome da historia foi apagado. Mas o espírito só adormeceu, e centos de anos mais tarde, as vozes de Rosalia, Pondal, Curros Enriquez e muitos outros, alguns mártires em Carral, ergueram de novo esta chama que agora te entrego irmão na confiança, sabendo que farás bom uso dela, e elevarás no continente americano, como na África e Oceania, onde outros irmãos nos aclamam, a voz lírica deste novo mundo, lusofonia chamado, para que nunca mais a vida nascida das minhas entranhas seja por outros desprezada.
Eis a minha história, irmão Brasil, ainda hoje continuam meus filhos, contra a ignorância lutando, pola dignidade deste recanto que foi berço da cultura que hoje tu com orgulho ao mundo amostras sem arrogância. Continuarão ainda cá tempos difíceis que pronto iremos superando com ajuda dos nossos irmãos que conhecem a nossa palavra, por que a palavra hoje é carne e mora vestida de raças, para os povos unir na nobreza da que foi criada.
Como vês, querido irmão, a minha luta tem sido longa e sem tréguas, tenho de admitir que vou velha e por vezes me sinto cansada... Acho alívio em saber que tu herdaste a minha fala e que em ti nunca se apagará a minha chama; não é que eu recuse a luta, mas tenho que ser realista... o destino da nossa língua, língua em que eternamente viajará a minha alma, aqui na pátria mãe, ainda é incerto.
Há um ano um grupo de intelectuais e artistas, professores, escritores, e defensores da nossa cultura, criaram a Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP). A ajuda da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Letras foi notável e imprescindível. A AGLP, a que sinto como a minha filha mais nova, tentará abrir os caminhos que rompam o cerco que nos sítia e nos abafa; do seu êxito depende em grande medida o meu futuro, é por isso que te peço a acolhas com agarimo e a ajudes no que puderes em nome da nossa eterna irmandade.
A nossa língua atravessa uma das suas piores etapas de todos os tempos na terra berço, a terra mãe que com tanto amor a viu nascer, e a seus filhos e filhas de todo o mundo envia hoje a sua voz... Voz que vai na procura de ajuda que tanto necessito, ajuda que restaure a minha dignidade, peço não continuar a ser ignorada. Por isso te falo, querido irmão, por isso te falo...
Recebe de mim a palavra que mais estimes, meu amado irmão Brasil
Assinado: A Galiza
(da Autoria do Clube dos Poetas Vivos: Artur A. Novelhe, Belém de Andrade, José Manuel Barbosa, e Concha Rousia)
domingo, 20 de setembro de 2009
POEMA
Para se ter direito a um poema
é preciso penetrar-lhe os silêncios
é preciso um mínimo
uma pausa que seja mas pausa
de semibreve
não de colcheias serelepes
ou confusas semifusas
que o poema precisa de t e m p o respiração relaxamento
para se ter direito a um poema
é preciso interpretar-lhe os gritos
suas trilhas cachoeiras suas muitas corredeiras
palavras são lâminas lama que cura
que corta
que sangra
que provoca indeléveis rup turas
para se ter direito a um poema
é preciso ter coragem de se ver
se reconhecer
do outro lado do espelho
do outro lado da margem
Telmas Da Costa
é preciso penetrar-lhe os silêncios
é preciso um mínimo
uma pausa que seja mas pausa
de semibreve
não de colcheias serelepes
ou confusas semifusas
que o poema precisa de t e m p o respiração relaxamento
para se ter direito a um poema
é preciso interpretar-lhe os gritos
suas trilhas cachoeiras suas muitas corredeiras
palavras são lâminas lama que cura
que corta
que sangra
que provoca indeléveis rup turas
para se ter direito a um poema
é preciso ter coragem de se ver
se reconhecer
do outro lado do espelho
do outro lado da margem
Telmas Da Costa
FICÇÃO POÉTICA
Fingir é condição recorrente e inata
E a inverdade se justifica no viver.
O poeta, como profeta da revelação
Inventa um mundo na arte, em seu verter.
E se o poeta decide então sofrer
Não mais é necessário mentir tanto
Pois capaz será da beleza ver
de reparar na vida e em seu espanto.
E se lhe angustia no coração
O paradoxo de um mais forte sentimento
Perdura-se, o poeta, no sublime e na paixão
será preciso exagerar no sofrimento.
E a inverdade se justifica no viver.
O poeta, como profeta da revelação
Inventa um mundo na arte, em seu verter.
E se o poeta decide então sofrer
Não mais é necessário mentir tanto
Pois capaz será da beleza ver
de reparar na vida e em seu espanto.
E se lhe angustia no coração
O paradoxo de um mais forte sentimento
Perdura-se, o poeta, no sublime e na paixão
será preciso exagerar no sofrimento.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
DESIDÉRIO
não privar mais do eu profundo
piano ao longe, cão na estrada
chuva fina, corta no fio o rosto
qualquer vontade não se instala
a antiguidade do desejo é posto
na imensidão de um vasto mundo.
uma ovelha pastando, marca
o tempo infinito a desdobrar
na sinfonia dos passarinhos
no gorjeio manifesto ao ar
nos amores e cantos territoriais
a elegia no viço das flores
um verde que não se acaba
e que é fonte de toda paz
nenhum mal, alegria, nada mais
num jeito de estar natural.
piano ao longe, cão na estrada
chuva fina, corta no fio o rosto
qualquer vontade não se instala
a antiguidade do desejo é posto
na imensidão de um vasto mundo.
uma ovelha pastando, marca
o tempo infinito a desdobrar
na sinfonia dos passarinhos
no gorjeio manifesto ao ar
nos amores e cantos territoriais
a elegia no viço das flores
um verde que não se acaba
e que é fonte de toda paz
nenhum mal, alegria, nada mais
num jeito de estar natural.
ANTI-ECLESIASTES
Os sinais do Apocalipse, o fim do mundo
Juan de La Cruz e a prognose pantagruélica
As vãs profecias de Nostradamus
As visões de mistério e a alta Stela
Do princípio, Alfa ou Ômega
A morte e a vida, érebo de serralhas
O anjo primeiro a ditar finda ecógla
Candelabros da Eclésia de Éfeso
Alumiando a glória de Deus nas alturas...
Pois que é a luz do chão que alumeia, das profundas.
Dão-se glorias excelsas às trevas, ao rei das Fornalhas
Ou das grandes águas, Satã, Balaão, Pai da Sinagoga
Que, dos tempos, vaticina solidões amargas
Neste mar de dracmas, cevada e lagrimas.
Juan de La Cruz e a prognose pantagruélica
As vãs profecias de Nostradamus
As visões de mistério e a alta Stela
Do princípio, Alfa ou Ômega
A morte e a vida, érebo de serralhas
O anjo primeiro a ditar finda ecógla
Candelabros da Eclésia de Éfeso
Alumiando a glória de Deus nas alturas...
Pois que é a luz do chão que alumeia, das profundas.
Dão-se glorias excelsas às trevas, ao rei das Fornalhas
Ou das grandes águas, Satã, Balaão, Pai da Sinagoga
Que, dos tempos, vaticina solidões amargas
Neste mar de dracmas, cevada e lagrimas.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
ESTELAR
Céu da boca, vãos cometas
Riscos de desejos.
Dançar um tango
Em verso & prosa.
Em Mar Del Plata, um Mar de Rosas.
Eu te quis. Tu me deste um beijo.
Que seja assim
Ou seja como for
E queria que fosse somente tu
O meu ingente amor.
Céu aberto, no chão de estrelas
Siderada, perdida, de todo incerta
Vai a corveta esbelta trafegando o pélago
Sob a luz de um luar azul.
Noite de vagas infensas
Tenaz holandês voador
Rumando à estrela do pólo sul.
Riscos de desejos.
Dançar um tango
Em verso & prosa.
Em Mar Del Plata, um Mar de Rosas.
Eu te quis. Tu me deste um beijo.
Que seja assim
Ou seja como for
E queria que fosse somente tu
O meu ingente amor.
Céu aberto, no chão de estrelas
Siderada, perdida, de todo incerta
Vai a corveta esbelta trafegando o pélago
Sob a luz de um luar azul.
Noite de vagas infensas
Tenaz holandês voador
Rumando à estrela do pólo sul.
ARS
A Dra Nise da Silveira
Desenevoar o medo
no âmago da tarde meiga
pois eles nos querem mortos
mas nós jamais feneceremos
se nos fica a poesia
ou se fica a palavra sentida.
Os outros é que se irão
para onde nós não os vemos.
Vestimo-nos de sombras.
Sendo assim, entrementes
investiremos contra
o árido tempo
e vagaremos por aí a esmo
mesmo que emparedados
imóveis em sonhos
em um museu do inconsciente.
Alem do sentido do prazer
há o sentido da loucura
do poema, da retórica
o sentido na lingüística
e o poder da imaginação.
Há a filosofia, que é aríete da arte.
A diferença entre o hedonista
e o pensador
está na etimologia da palavra.
Arte é articulação. E de outra parte
é fazer artifício, discurso
dar significação, promover hierarquias, liberar os sentidos
todos, passo após passo.
É tarde para os Deuses
e é cedo para o ser.
O que será este objeto perdido
caído em um canto escuro do chão?
O que mais será isto para Heidegger
do que é para mim um parvo
par de sapatos?
Desenevoar o medo
no âmago da tarde meiga
pois eles nos querem mortos
mas nós jamais feneceremos
se nos fica a poesia
ou se fica a palavra sentida.
Os outros é que se irão
para onde nós não os vemos.
Vestimo-nos de sombras.
Sendo assim, entrementes
investiremos contra
o árido tempo
e vagaremos por aí a esmo
mesmo que emparedados
imóveis em sonhos
em um museu do inconsciente.
Alem do sentido do prazer
há o sentido da loucura
do poema, da retórica
o sentido na lingüística
e o poder da imaginação.
Há a filosofia, que é aríete da arte.
A diferença entre o hedonista
e o pensador
está na etimologia da palavra.
Arte é articulação. E de outra parte
é fazer artifício, discurso
dar significação, promover hierarquias, liberar os sentidos
todos, passo após passo.
É tarde para os Deuses
e é cedo para o ser.
O que será este objeto perdido
caído em um canto escuro do chão?
O que mais será isto para Heidegger
do que é para mim um parvo
par de sapatos?
A APRESENTAÇÃO DO MEU NOVO LIVRO, POR MARCUS VINÍCIUS QUIROGA
A INSTÁVEL PERMANÊNCIA
O poeta, mais que escrever sobre a morte, escreve contra a
morte. Melhor: contra as mortes, porque muitas são as finitudes.
Se, por um lado, o tema é único; por outro, múltiplas são as signifi-
cações da morte: física, espiritual, amorosa, social ou política.
Em diversas dicções também o poeta recorda, expõe,analisa, pensa
o seu inventário de perdas. A situação-limite da proximidade da morte
que motivou os 51 poemas e uma historieta se desdobra no mapeamento do morrer cotidiano, contra o qual ele oferece a poesia, como é dito em ARS - verdadeira profissão de fé lírico-existencial:”Nós jamais feneceremos/ se nos fica a poesia/
ou se fica a palavra sentida.”
O leitor está diante de textos maduros que se utilizam de um vasto repertório de expressão, alternando formas fixas e livres, que vão do experimentalismo ao soneto;
mesclando registros, do vulgar ao solene; e variando do poema-minuto ao narrativo, pois afinal “a poesia é uma fome daquelas/ de não saciar”.
Segundo livro de Ricardo Sant’anna Reis, Derradeiro Prelúdio é obra que se singulariza pelo riqueza vocabular e pela força imagística, a serviço
de um lirismo de alta voltagem reflexiva, do qual A dualidade da vida é só um
exemplo, que agora parafraseio: “A poesia, meus senhores, não é assim tão leve;/
Não se a vive impune.”
Só uma poesia de falsa leveza para resgatar na linguagem a instável
permanência do existir, dando-nos a lição de que a palavra sempre resiste à morte,
porque obstinada, mesmo em sua fragilidaDE.
Marcus Vinicius Quiroga - Poeta, Crítico, Ensaísta, Doutor em Literatura Brasileira
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
domingo, 13 de setembro de 2009
PALPITAÇÃO
Se você ousou, o que importa?
O tempo é ontem
quando tudo valeu a pena.
Se você chorou, não cuides mais.
O sentido do pranto já está
incurso no corpo do poema.
Se temeu, então que seja.
O alarme do gato só se elucida
durante o salto.
Nada é tão puro
e nem tão indiferente
para um coração doído.
Mesmo a ave que voa livre
traz no peito (e sofre ainda)
aquele gato excluído.
O tempo é ontem
quando tudo valeu a pena.
Se você chorou, não cuides mais.
O sentido do pranto já está
incurso no corpo do poema.
Se temeu, então que seja.
O alarme do gato só se elucida
durante o salto.
Nada é tão puro
e nem tão indiferente
para um coração doído.
Mesmo a ave que voa livre
traz no peito (e sofre ainda)
aquele gato excluído.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Decisão de Amar
Como os quero-queros e as gralhas
talvez eu aprenda a acordar cedo
para fazer poemas
espelhando a vontade de amar.
Ou quem sabe eu deva seguir
com o vento
que desce pela colina na tarde...
Talvez me caiba aprender
as falas dos passarinhos
no arvoredo
e reter lembranças
das mulheres na lucidez do outono.
O recalcitrante, na cidade, o medo
inda acompanhe-me um pouco mais
antes que o azul, pela janela
ilumine meus cinquentanos...
Quiçá o longínquo riso de
criança
não seja o emplastro desta inútil vida?
Amei sim, e muito alem.
Talvez lhe deva
uma explicação
já que as expectativas morrem
amiúde, a cada manhã
e os sonhos, estes
não se acabam jamais.
talvez eu aprenda a acordar cedo
para fazer poemas
espelhando a vontade de amar.
Ou quem sabe eu deva seguir
com o vento
que desce pela colina na tarde...
Talvez me caiba aprender
as falas dos passarinhos
no arvoredo
e reter lembranças
das mulheres na lucidez do outono.
O recalcitrante, na cidade, o medo
inda acompanhe-me um pouco mais
antes que o azul, pela janela
ilumine meus cinquentanos...
Quiçá o longínquo riso de
criança
não seja o emplastro desta inútil vida?
Amei sim, e muito alem.
Talvez lhe deva
uma explicação
já que as expectativas morrem
amiúde, a cada manhã
e os sonhos, estes
não se acabam jamais.
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